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Sérgio Moro ataca permanência de corrupto na política

Juiz da Lava Jato diz ser surpreendente longevidade de condenados na vida pública e lamenta necessidade de intervenção do Judiciário para poupar a sociedade dos riscos

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Por Redação
Atualização:

Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

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Em despacho favorável à prisão do ex-deputado André Vargas (sem partido-PR) nesta sexta-feira, 10, o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava Jato, afirmou que é "inaceitável que agentes políticos em relação aos quais existam graves indícios de envolvimento em corrupção e lavagem de dinheiro permaneçam na vida pública sem grandes consequências".

O juiz afirma que é necessária "infelizmente a intervenção do Poder Judiciário para poupar a sociedade do risco oferecido pela perpetuação na vida pública do agente político criminoso".

Moro conduz uma investigação histórica que aponta para o envolvimento de pelo menos 52 políticos - entre deputados, senadores e governadores e ex-parlamentares. É o maior contingente de agentes políticos sob suspeita de crimes de corrupção e lavagem.

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Juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato. Foto: Gil Ferreira/Agência Brasil

Cassado em dezembro de 2014 e fora do PT desde então, Vargas é investigado pela força-tarefa da Lava Jato em quatro frentes que englobam o Ministério da Saúde, a Caixa Econômica Federal e o recebimento indireto de propina do cartel da Petrobrás. Pode responder em juízo como réu por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

O caso de Vargas, um dos três primeiros políticos presos pela Lava Jato, dentro da Operação A Origem, é para Moro exemplo de como o uso do mandato parlamentar para enriquecimento ilícito deve ser visto como uma traição à confiança da sociedade brasileira.

"A gravidade concreta da conduta de André Vargas é ainda mais especial, pois as provas apontam que ele traiu seu mandato parlamentar e a confiança que a sociedade brasileira nele depositou, ao concordar em utilizá-lo para enriquecer ilicitamente", aponta o magistrado.

"Chegou ele a exercer o cargo de vice-presidente da Câmara dos Deputados e ainda assim, às ocultas, persistiu utilizando seu poder em benefício próprio e em detrimento dos seus eleitores."

Atacado pelos maiores escritórios de advocacia criminal do País, muitas vezes em argumentos consonantes sobre a falta de quesitos legais para determinações das prisões cautelares, foram raras ocasiões em que os recursos contra suas decisões foram acolhidos por côrtes superiores, desde o início da Lava Jato, em março de 2014.

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Imagem da entrada do ex-deputado André Vargas no escritório do doleiro Alberto Youssef Foto: Estadão

Longevidade. Na decisão desta sexta-feira, Moro criticou a reincidência na políticos de pessoas alvos de condenação criminal por crimes graves, bem como se diz surpreendido pela "longevidade na vida pública" de certos agentes. 

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"Infelizmente, no Brasil, não raramente agentes políticos surpreendidos na prática de crimes graves, alguns até presos e condenados, mantém surpreendente longevidade na vida pública, passando alguns a nela influir pelosbastidores, enquanto outros, de forma ainda mais assustadora, logram recuperar mandatos formais."

Preso desde o fim da tarde de sexta-feira, André Vargas fez ontem exame de corpo de delito, em Curitiba, onde está detido na Custódia da Superintendência da Polícia Federal.

O nome escolhido pela Polícia Federal é referência ao local - Londrina (PR) - onde começa a ser desmontada a maior trama de corrupção da política brasileira, nos governos do PT, à partir de 2006. Vargas é de Londrina, como o doleiro Alberto Youssef e o ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010. Os dois últimos são duas peças primárias das investigações criminais da Lava Jato.

Os investigadores conseguiram provas de que o imóvel em que Vargas morava, e que foi sequestrado por ordem do juiz, foi comprado por valor declarado bem inferior e sem renda compatível para sua cobertura. Foram encontrados ainda elementos concretos de que ele atuou para abrir portas para Youssef em contrato milionário da Saúde e recebeu, em proveito própria, verba desviada de contratos de publicidade do ministério e da Caixa Econômica Federal.

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No que se refere à André Vargas, Moro sustenta que "há concreto risco, assim, de que ele ainda mantenha, mesmo com o mandato cassado, influência em órgãos governamentais ou em entidade públicas, com chance de reproduzir esquemas criminosos".

O despacho de sexta-feira foi a primeira ordem de reclusão mirando políticos, desde que foi deflagrada a Operação Lava Jato, em março de 2014. Além de Vargas, peça chave no esquema do PT envolvendo a área de Comunicação, foram presos os ex-deputados Luiz Argôlo (ex-PP-BA, atualmente no SD) e Pedro Corrêa (PP-PE) - já cumprindo pena como condenado no mensalão.

"O apelo à ordem pública, seja para prevenir novos crimes, seja em decorrência de gravidade em concreta dos crimes praticados, justifica a decretação da preventiva", disse.

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