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Relatório mostra siglas de Marcelo Odebrecht para políticos

Análise do celular do maior empreiteiro do País revela seu esforço em utilizar siglas e mensagens codificadas para se referir a políticos e registrar algumas transações

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Por Redação
Atualização:

Atualizado dia 22 as 23h33

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Por Mateus Coutinho,Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba e Fausto Macedo

Relatório da Polícia Federal sobre o celular de Marcelo Bahia Odebrecht apreendido na 14ª fase da Lava Jato revelam o amplo leque de políticos, da base do governo e da oposição, com os quais Marcelo Odebrecht tinha algum contato, sua preocupação com a operação da Polícia Federal e, sobretudo, seu esforço para utilizar siglas e mensagens codificadas para se referir a políticos e registrar algumas transações.

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O maior empreiteiro do País utilizava em seu aparelho e siglas como GA (segundo a PF referência ao governador Geraldo Alckmin), MT (segundo a PF seria Michel Temer), GM (segundo a PF seria Guido Mantega), JS (neste caso a Polícia Federal utilizou uma tarja preta para não identificar o contato), FP (em um momento aPF identifica como O governador de Minas Fernando Pimentel, em outro utiliza uma tarja preta para não identificar o contato) e algumas mais óbvias como ECunha, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ).

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 Foto: Estadão

 

Há também referência direta ao ex-presidente Lula e a outros apelidos como "Dida", para se referir a Aldemir Bendine, presidente da Petrobrás, e "Beto", em referência ao secretário nacional de Justiça Beto Ferreira Martins.Em alguns trechos ainda aparece "Edinho", uma possível referência ao ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Edinho Silva e a "Haddad", possivelmente o prefeito de São Paulo Fernando Haddad, mas que o relatório também utiliza uma tarja preta. Na análise de 31 páginas,a Polícia Federal limita-se a transcrever as anotações da agenda do empreiteiro.

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Em duas ocasiões, como revela a análise do material apreendido na residência de Marcelo Odebrecht, há registros na agenda do celular de encontros com políticos. Ele teria se reunido com Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, em outubro de 2014, e com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), em 21 de novembro do ano passado, já depois da Juízo Final, etapa da Lava Jato que levou à prisão outros executivos de grandes empreiteiras do País. O detalhamento do encontro com o vice-presidente, contudo, aparece coberto por uma tarja preta no relatório.

 Foto: Estadão

Algumas anotações do dia 9 de janeiro de 2013 chamaram a atenção dos investigadores, como o tópico "Créditos".

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CONFIRA O TÓPICO CRÉDITOS NO CELULAR DE MARCELO ODEBRECHT:

 

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Mais abaixo, há ainda o tópico "notas antigas", no qual há referência "adiantar 15 p/JS" e em seguida a anotação "IPI até dez e pis/Cofins até jan". Ainda relacionado a este tópico há o título "Contribuição", a partir do qual surgem várias referências de valores seguidas de siglas que a Polícia Federal ainda não conseguiu identificar claramente.

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

"Embora sem fundamento sólido, o indiciamento do executivoe ex-executivos da Odebrecht já era esperado. As defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa. Em relação à Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamenteinterpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporalde suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras."

POLÍCIA UTILIZA TARJAS PARA PRESERVAR A INVESTIGAÇÃO:

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Por se tratar de investigação na 1.ª instância da Justiça, o relatório da Polícia Federal sobre as anotações do empresário Marcelo Odebrecht, revelado pelo Estado na terça-feira passada, possui tarjas pretas cobrindo os nomes de políticos.

A medida da PF, de cobrir os nomes, tem como objetivo preservar as investigações. As tarjas estão sobre as citações feitas a políticos que detêm, conforme a lei, foro privilegiado perante os tribunais superiores. Com várias siglas e referências a obras e aos políticos, o relatório consta das investigações da 14.ª fase da Lava Jato que correm na 1.ª instância na Justiça Federal no Paraná.

Essa prática utilizada pela Polícia Federal é corriqueira quando a investigação depara com nomes e dados pessoais (como telefones) de parlamentares que só podem ser julgados perante o Supremo Tribunal Federal. A partir do relatório, os investigadores transcrevem mensagens que citam várias siglas e levantam dados de contatos e agenda no aparelho do executivo que, de acordo com os próprios investigadores e conforme divulgado pelo Estado, indicam nomes de políticos.

Em alguns casos, há registros de reuniões do empreiteiro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em outubro de 2014. O governador admitiu ter se encontrado com Odebrecht. Também há registro de reunião com o vice-presidente Michel Temer. No caso de Alckmin e Temer, os nomes não foram preservados porque, segundo a PF, apareciam citados na agenda em reuniões oficiais com o empreiteiro.

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