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Registro de 2013 da Odebrecht tem 'Lula' e '200 inclui 100. Não 300'

Documento entregue na delação da empresa seria referência a discussão sobre valor do 'pacote de propinas' de R$ 300 milhões que Palocci revelou ter sido fechado na eleição de Dilma entre o ex-presidente e Emílio Odebrecht; Marcelo dizia que eram R$ 200 milhões

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Por Ricardo Brandt , Fausto Macedo , Julia Affonso , Luiz Vassallo e enviado especial a Curitiba
Atualização:
 

Um dos documentos entregues pela Odebrecht como elemento de prova dos acertos de propina com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma agenda digital de compromissos, com anotações que citam "Lula" em mais de um trecho e termina com "Meet PR - 200 inclui 100. Não 300. Ou 100 Vac".

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Na semana passada, o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda/Lula e Casa Civil/Dilma Rousseff) confessou ser o "Italiano" que gerenciava a "conta corrente" da Odebrecht com o PT, que teve a disposição R$ 300 milhões em propinas para o projeto político de Lula. O ex-presidente nega.

A anotação seria referência ao desentendimento entre Lula e Palocci com o empresário Marcelo Bahia Odebrecht - preso desde junho de 2015, em Curitiba - sobre o valor acertado entre o patriarca dos Odebrecht, Emílio, e o ex-presidente no final de 2010, quando ele deixou o governo e elegeu Dilma. A divergência foi citada pelos delatores da Odebrecht e por Palocci.

 

Divergência. Palocci fala em R$ 300 milhões, que era o valor que Lula contou a ele que foi oferecido por Emílio, no final de 2010. "Quando a presidente Dilma foi tomar posse, a empresa entrou em um certo pânico e foi nesse momento em que o Dr Emilio Odebrecht fez um uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula."

O ex-ministro disse não estar no encontro, que foi relatado por ele por Lula no dia seguinte. "Ele (Emílio) procurou o presidente Lula nos últimos dias do seu mandato e levou um pacote de propinas para o presidente Lula que envolvia esse terreno do Instituto que já estava comprado, seu Emilio apresentou ao presidente Lula, o sítio para uso da família do presidente Lula, que ele estava fazendo a reforma, em fase final e ele disse ao presidente Lula que o sítio já estava pronto, e também disse ao presidente Lula que ele tinha a disposição dele para o próximo período para ele fazer as atividades políticas dele R$ 300 milhões. Eu fiquei bastante chocado com este momento, porque achei que não era assim que era o relacionamento da empresa naquele..."

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O fim do silêncio de Palocci no dia 6, ocorre em meio a tratativas de sua defesa com o Ministério Público Federal para um acordo de delação premiada. Condenado a 12 anos de prisão e preso desde outubro de 2016, o ex-minstro confessou seus crimes ao juiz federal Sérgio Moro e incriminou Lula para buscar benefícios de redução de pena diretamente com a Justiça.

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A Moro, Palocci relatou que houve uma "divergência" entre os valores - o que tinha sido citado nas delações premiadas da Odebrecht. Segundo o ex-ministro, enquanto Emilio apontava para R$ 300 milhões, seu filho Marcelo Odebrecht acenava com outro valor.

"O Marcelo Odebrecht, quando eu falei com ele, confirmou que ele tinha pedido pro pai dele ir falar e só teve divergência de valores. Ele falou 'não é R$ 300 milhões, meu pai se enganou. Trezentos é a soma daquilo que foi dado com aquilo que ainda tem disponível'. E o pai do Marcelo, seu Emílio, disse ao presidente Lula que R$ 300 milhões é o que estava disponível naquele momento. Havia, entre eles, uma divergência. Eu algumas vezes conversei com o Marcelo sobre isso", contou.

Lula. Foto: Reprodução

Lula usou a divergência de valores como um dos elementos para tentar desqualificar as afirmações de Palocci que imputaram a ele crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Nesse processo, em que os dois petistas são réus, a força-tarefa da Lava Jato aponta R$ 12,5 milhões em propinas ao ex-presidente da Odebrecht, pagas de forma dissimulada na compra de um terreno para ser sede do Instituto Lula, em São Paulo, e de um apartamento no prédio em que ele mora, em São Bernardo do Campo.

"Deixa eu falar um pouco dentro do meu contexto, o senhor fala, eu já repito ou não repito. Então o companheiro Palocci vem aqui e conta uma série de inverdades, ele fala de um fundo, sabe, que hora é 300, outra hora é 200, mas que ele não soube, ele não estava lá, fui eu que contei para ele", afirmou Lula, interrogado pela segunda vez como réu da Lava Jato em Curitiba, nesta quara-feira, 13.

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+ VíDEO: VEJA INTERROGATÓRIO DE LULA

Durante o interrogatório, o advogado Cristiano Zanin Martins questionou Palocci sobre o encontro. O ex-ministro reafirmou o que havia dito a Sérgio Moro.

"O Emílio o abordou, no final de 2010, não foi para oferecer alguma coisa, Dr., foi para fazer um pacto, que eu chamei de pacto de sangue, porque envolvia um presente pessoal, que era um sítio, envolvia o prédio de um museu, pago pela empresa, que envolvia palestras pagas a R$ 200 mil foram impostos, combinadas com a Odebrecht para o próximo ano, várias palestras, envolvia uma reserva de R$ 300 milhões. O presidente Lula me procurou. Eu ficaria surpreso também. Eu não estranhei a surpresa do presidente. Mas ele não mandou eu brigar com o Odebrecht. Ele mandou eu recolher os valores", afirmou.

 

Planilha. A planilha "Posição Programa Especial Italiano", que estava em poder da Lava Jato, e foi confirmada por Odebrecht, em sua delação premiadam, registra em "outubro de 2013" um saldo de "200.098", com valores "Em R$ mil".

É nessa planilha que há registro de "12.422" para "Prédio (IL)", "Feira (Pagto = fora US$ 10MM) 16.000", "Italia 6.000", "Pós -Itália 50.000"e "Amigo 15.000". O codinome Feira era usado para o marqueteiro do PT João Santana, Itália era Palocci, Pós Itália o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e Amigo, Lula - segundo os delatores da Odebrecht.

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O documento faz parte das investigações da Lava Jato, antes do acordo da Odebrecht fechado em dezembro de 2016. Foi ele que levou a força-tarefa a deflagradar em outubro de 2016 a Operação Omertà, que prendeu Palocci como sendo o "Italiano", que controlava a conta com a Odebrecht de onde saíram milhões para pagar o marqueteiro João Santana, o Feira.

 

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