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Quase 300 procedimentos apuram notas para a JF

Receita mira empresas citadas nos acordos de colaboração premiada de executivos e acionistas do grupo suspeitas de emitir recibos fictícios para ocultar repasses

Foto do author Adriana Fernandes
Por Fabio Serapião , Adriana Fernandes e BRASÍLIA
Atualização:

Joesley Batista. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

A Receita Federal instaurou 298 investigações - chamadas de procedimentos fiscais - contra empresas citadas nos acordos de colaboração premiada de executivos e acionistas do Grupo J&F, dono da JBS. Os procedimentos apuram se as empresas foram emissoras de notas fictícias para mascarar repasses a agentes públicos e partidos políticos. O objetivo do Fisco é rastrear os recursos, identificar os beneficiários finais desses repasses e mapear possíveis crimes tributários na emissão das notas falsas. Ainda não há um valor total envolvido nas operações.

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As investigações começaram na esteira da Operação Patmos, que completa um ano hoje e foi o primeiro desdobramento da delação da J&F. A colaboração mirou em aliados do presidente Michel Temer e políticos do MDB e de outros partidos.

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Estão na mira dos procedimentos compradoras de carne da JBS, escritórios de advocacia, agências de publicidade e comunicação, editoras, empresas de transporte e firmas que atuam no setor de construção civil. Todas são apontadas como fornecedoras de notas "frias" que serviram, segundo os delatores, para mascarar repasses de propina para políticos como o ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações), os senadores Eunício Oliveira (MDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM) e partidos políticos, como PR, PCdoB e Solidariedade.

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Alvo da Receita, as empresas "noteiras" formam um dos grupos de pessoas jurídicas investigadas em grandes operações da Polícia Federal. Segundo o Fisco, elas eram "encarregadas pela emissão de notas fiscais frias para acobertar recebimentos ilícitos de recursos e posterior distribuição aos beneficiários finais, via contratação de outros serviços fictícios, saques em espécie e celebração de contratos de câmbio fraudulentos".

Os procedimentos vão mapear toda a movimentação financeira dessas firmas para descobrir qual foi o caminho percorrido pelos valores enviados pelo Grupo J&F.

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As revelações dos acionistas da J&F, os irmãos Joesley e Wesley Batista, e de executivos do grupo levaram à abertura de duas ações penais contra políticos e há pelo menos 13 inquéritos tramitando no Supremo Tribunal Federal. O mais recente deles foi aberto nesta quarta-feira, 16, e envolve caciques do MDB.

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Outros inquéritos. Entre os alvos dos processos estão Kassab, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), o presidente Michel Temer - alvo de duas denúncias e investigado no inquérito sobre o Decreto dos Portos - e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Quatro dos sete delatores da J&F, no entanto, vivem um impasse. A Procuradoria-Geral da República pediu a rescisão do acordos, ainda não homologada pelo ministro-relator no STF, Edson Fachin.

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Tanto no Supremo como em outras instâncias, mais inquéritos poderão ser abertos com base nos 76 anexos complementares das delações apresentados em agosto. Na semana passada, a Procuradoria deu encaminhamento a essas informações, que, além do STF, seguem para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e para Paraná, São Paulo, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Norte, Acre, Rondônia, Minas Gerais e Rio.

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"A importância dos depoimentos e dados de corroboração certamente serão utilizados para a abertura de novos inquéritos, pois isso já foi demonstrado nos atuais procedimentos instaurados, o que revela a importância da colaboração", disse o advogado André Callegari, que defende Joesley no caso do acordo de colaboração premiada firmado no Supremo.

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Políticos. Uma das empresas que estão na mira da Receita é a Yape Assessoria e Consultoria, da família do ministro Gilberto Kassab (PSD). Os delatores da J&F afirmam ter repassado valores mensais ao ministro por meio de nota fictícias emitidas pela Yape. Os valores repassados mensalmente, entre 2009 e 2017, alcançariam R$ 20 milhões.

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A assessoria do ministro disse que os valores movimentados pelas empresas são compatíveis com os contratos e com os serviços, que foram efetivamente prestados. "Não houve qualquer reciprocidade por esses contratos, e nunca houve qualquer pedido de favor ao ministro."

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Alvo de apuração, a Buriti Comércio de Carnes foi citada em caso que envolve o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB). Segundo os delatores, em troca de benefícios fiscais no Estado, a empresa repassou R$ 12 milhões, entre março e abril de 2015, para o tucano "por meio de notas fiscais falsas de compra de carne bovina" emitidas pela Buriti. O governador refuta as suspeitas.

Na lista também estão firmas ligadas a senadores do MDB. A Rico Táxi Aéreo foi citada como emissora de R$ 6 milhões em "notas frias" que teriam como destinatário o senador Eduardo Braga (MDB-AM). Ele não foi localizado para comentar.

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As notas emitidas pela Campus Centro de Estudos, por sua vez, foram atreladas a repasses para a campanha do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), ao governo do Ceará. O senador emedebista disse que as contas da campanha foram apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aprovadas.

Procurada, a J&F informou que não iria se manifestar. / COLABORARAM BRENO PIRES e NEILA ALMEIDA e PAULO OLIVEIRA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

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