Atualizada às 20h46
Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, afirmou nesta sexta-feira, 4, que a sociedade brasileira ainda é explorada pela corrupção. Segundo ele, a Lava Jato revela 'o exercício de um governo em benefício de interesses particulares, de governantes que enriquecem e de um capitalismo de compadrio'.
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A ÍNTEGRA DA DENÚNCIA"Nós comemoramos nesta semana o dia da Independência do Brasil (7 de setembro). Um dia em que o Brasil se viu independente de um estado de exploração. Contudo, nós ainda somos explorados pela corrupção. Que nós possamos, através dessas medidas e de ações penais como essa proposta (contra o ex-ministro José Dirceu), ter marcos simbólicos da luta do nosso povo por um País mais justo, por um País melhor, por um País livre e independente da exploração que nos faz sofrer e da exploração cometida por corruptos e por corruptores", afirmou.
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O Ministério Público Federal denunciou, hoje, criminalmente o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula), o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e mais 15 investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Estão entre os denunciados Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão e ex-sócio de José Dirceu na JD Assessoria e Consultoria - empresa pela qual o petista teria recebido propinas do esquema de corrupção e propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014, e Camila Ramos de Oliveira e Silva, filha de Dirceu.
"A corrupção em larga escala desvirtua o exercício do poder que devia ser exercido em benefício da população. Mas é exercido em benefício dos próprios governantes e de pessoas influentes. O que a Lava Jato revela é o exercício de um governo em benefício de interesses particulares, de governantes que enriquecem e de um capitalismo de compadrio, em que alguns empresários que querem lucrar a qualquer custo se aproximam de pessoas com influência, de agentes públicos para benefício mútuo de seus próprios bolsos em prejuízo de toda a população", sustentou Dallagnol.
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O procurador observou. "A cura para esse problema que sangra a nossa democracia é mais democracia. Nós precisamos de medidas que sejam aptas a transformar a nossa realidade, como as 10 medidas contra a corrupção e a impunidade ofertadas pelo MPF."
A Procuradoria da República apresentou ao Congresso Nacional um conjunto de dez medidas distribuídas em três frentes: investigação e punição efetivas da corrupção; implementação de controles internos, transparência, auditorias, estudos e pesquisas de percepção; e educação, conscientização e marketing. Essas medidas podem se tornar projetos de iniciativa popular, como foi feito com a Lei da Ficha Limpa. Para isso, é necessário coletar, no mínimo, 1,5 milhão de assinaturas de eleitores em todo o País.
O criminalista Roberto Podval, que defende o ex-ministro José Dirceu, disse que vai aguardar intimação da Justiça Federal para apresentar seus argumentos. "O que posso dizer é que está comprovado que o Milton (Pascowitch, delator) enriqueceu às custas de Dirceu, usando o nome de Dirceu", disse Podval, que também representa o irmão e a filha de Dirceu.
Ele disse que a defesa terá dez dias para entregar a resposta ao juiz Sérgio Moro. "No momento certo vamos à Justiça esclarecer tudo."
O advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, que defende João Vaccari Neto, afirmou que o ex-tesoureiro do PT 'jamais arrecadou propinas'."Ainda não tivemos acesso à integra da denúncia, mas pelas notícias veiculadas verifica-se que, mais uma vez, temos uma denúncia baseada exclusivamente em delação premiada sem que haja qualquer prova a corroborar tal delação."
D'Urso é taxativo. "O sr. Vaccari jamais recebeu qualquer doação ilegal. Todas as doações foram realizadas ao PT, depositadas na conta bancária e prestado contas às autoridades. Tudo absolutamente legal."