Atualizada às 20h46
Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Julia Affonso e Fausto Macedo
O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, afirmou nesta sexta-feira, 4, que o envolvimento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (Governo Lula) em um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro "é mais um capítulo de uma história do uso do poder para fins particulares".
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A ÍNTEGRA DA DENÚNCIA"José Dirceu foi um importante líder político brasileiro. Ele representou por muito tempo os ideais de muitos", afirmou o procurador. "Aqui nós não julgamos José Dirceu. Nós não julgamos pessoas ou vidas, mas fatos e atos concretos. Não está em questão quem foi José Dirceu ao longo da História. Não está em questão o que ele fez pela consolidação da democracia no nosso País. Mas sim se ele praticou fatos que são crimes em um contexto determinado. E as provas, as evidências nos dizem que sim, que ele praticou crimes graves, e ele deve ser responsabilizado como qualquer pessoas, porque nós vivemos em uma República, onde todos devem ser iguais perante a Lei."
Segundo Deltan, R$ 64 milhões foram lavados pela organização supostamente dirigida por Dirceu, que teria promovido 129 atos de corrupção ativa, 31 de corrupção passiva, entre 2004 e 2011, e 674 atos de lavagem de dinheiro.
O ex-ministro José Dirceu, preso preventivamente desde 3 de agosto pela Lava Jato, foi denunciado pelo Ministério Público Federal nesta sexta-feira, 4. Além do ex-ministro, também foram denunciados o ex-tesoureiro do PT João Vaccari e outros 15 investigados na Operação Pixuleco, desdobramento da Lava Jato. Todos são acusados de organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.
Roberto Marques, o Bob, é apontado como braço-direito do ex-ministro. Luiz Eduardo de Oliveira e Silva é irmão e ex-sócio de José Dirceu na JD Assessoria e Consultoria - empresa pela qual o petista teria recebido propinas do esquema de corrupção e propinas instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014. Camila Ramos de Oliveira e Silva é filha de Dirceu.
Também estão entre os denunciados a arquiteta Daniela Leopoldo e Silva Facchini - que reformou a casa de Dirceu em um condomínio de luxo em Vinhedo (SP) -, o lobista Fernando Moura, ligado ao PT, seu irmão Olavo Moura, o delator Milton Pascowitch - pivô da deflagração da Pixuleco que levou o ex-ministro à prisão, seu irmão José Adolfo Pascowitch, o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque e o lobista Julio Camargo.
Estão na lista ainda os executivos Cristiano Kok, José Antunes Sobrinho e Gerson Almada, todos da Engevix, e Julio César Santos, ex-sócio de Dirceu, em cujo nome está a casa onde mora a mãe do ex-ministro, em Passa Quatro (MG).
Dirceu e acusado por receber propinas da Petrobrás em cinco diferente projetos da Engevix com a estatal. Refinar e Relam, Cacimbas 1 2 e 3, RTBC. Alem desses esquemas, Dirceu foi denunciado por receber propinas das empresas Hope ae Personal, prestadoras de serviços da Petrobrás. Além da empresa Multitek.
O procurador da República Roberson Pozzobon afirmou que a denúncia aponta que foi Dirceu quem efetivamente apadrinhou o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, dentro da cota do PT, no esquema de cartel e corrupção na estatal.
O criminalista Roberto Podval, que defende o ex-ministro José Dirceu, disse que vai aguardar intimação da Justiça Federal para apresentar seus argumentos. "O que posso dizer é que está comprovado que o Milton (Pascowitch, delator) enriqueceu às custas de Dirceu, usando o nome de Dirceu", disse Podval, que também representa o irmão e a filha de Dirceu.
Ele disse que a defesa terá dez dias para entregar a resposta ao juiz Sérgio Moro. "No momento certo vamos à Justiça esclarecer tudo."
O advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, que defende João Vaccari Neto, afirmou que o ex-tesoureiro do PT 'jamais arrecadou propinas'."Ainda não tivemos acesso à integra da denúncia, mas pelas notícias veiculadas verifica-se que, mais uma vez, temos uma denúncia baseada exclusivamente em delação premiada sem que haja qualquer prova a corroborar tal delação."
D'Urso é taxativo. "O sr. Vaccari jamais recebeu qualquer doação ilegal. Todas as doações foram realizadas ao PT, depositadas na conta bancária e prestado contas às autoridades. Tudo absolutamente legal."