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Juiz sequestra bens de gráficas da campanha de Haddad

Márcio Antônio Boscaro, da 1.ª Zona Eleitoral de São Paulo, acolheu pedido da PF na Operação Cifra Oculta; ex-prefeito poderá ser indiciado por falsidade ideológica na prestação de contas à Justiça e lavagem de dinheiro

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Por Fausto Macedo , Julia Affonso e Luiz Vassallo
Atualização:

 Foto: PF faz buscas nas gráficas de Francisco Carlos de Souza

O juiz da 1.ª Zona Eleitoral de São Paulo, Márcio Antônio Boscaro, acolheu parcialmente pedido da Polícia Federal em inquérito policial da Operação Cifra Oculta e determinou a busca e apreensão e o sequestro de bens em gráficas que prestaram serviços à campanha de Fernando Haddad (PT), em 2012, para a Prefeitura de São Paulo. A decisão também se estende aos endereços residenciais dos donos das gráficas.

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O ex-prefeito poderá ser indiciado criminalmente pela PF por falsidade ideológica na prestação de contas à Justiça Eleitoral e lavagem de dinheiro, que podem levar a uma condenação de até dez anos de prisão e multa.

+ PF vai intimar Haddad na Cifra Oculta

Cifra Oculta foi realizada na manhã desta quinta-feira, 1, em São Paulo, São Caetano e Praia Grande, informou a Justiça Eleitoral.

A investigação tem origem nos depoimentos do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, e do executivo do grupo, Walmir Pinheiro. Os dois fizeram acordo de delação premiada na Operação Lava Jato.

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RELEMBRE:

O delegado da Polícia Federal Rodrigo Costa, chefe da Delegacia de Combate ao Crime Organizado em São Paulo, afirmou que Haddad será intimado a prestar depoimento na Operação Cifra Oculta. O delegado disse que o indiciamento criminal do ex-prefeito 'é uma possibilidade'.

O inquérito apura o pagamento via caixa 2, pela UTC, a gráficas da campanha do petista no valor de R$ 2,6 milhões. Uma gráfica pertence a familiares do ex-deputado estadual Francisco Carlos de Souza, o Chico Gordo (PT).

+ Veja imagens da Cifra Oculta, que investiga crimes eleitorais na campanha de Haddad

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Os recursos, segundo a investigação, foram repassados por meio do doleiro Alberto Youssef, delator da Lava Jato, em transferências bancárias e também com dinheiro vivo. A PF destacou que uma gráfica citada na delação aparece como 'fornecedora de serviços' da campanha de Haddad, com valores informados de R$ 354,4 mil - consta na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral outra prestação de serviços gráficos de R$ 252,9 mil, valores bem inferiores à soma de R$ 2,6 milhões que a empreiteira informou ter pago às gráficas da campanha do petista em 2012.

Fernando Haddad, do PT, concorreu pela primeira vez a um cargo eletivo em 2012, quando se tornou prefeito de São Paulo no segundo turno com 55,57% dos votos válidos contra o senador José Serra (PSDB). Sua vitória nas urnas marcou o retorno do partido ao Município, depois dos mandatos de Serra e de Gilberto Kassab (PSD).

Para 2012, Haddad arrecadou R$42 milhões e gastou R$67 milhões. O rombo foi assumido pelo Diretório Nacional do PT no ano seguinte.

A campanha de Haddad já tinha sido citada em delações premiadas de executivos de empreiteiras. Em junho do ano passado, Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da Andrade Gutierrez, disse que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu à empresa o pagamento de uma dívida de R$30 milhões da campanha do ex-prefeito. Ainda segundo o delator, R$ 5 milhões que a empreiteira teria de pagar eram para o marqueteiro João Santana.

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Delações da Odebrecht também citam pagamentos de caixa dois à campanha de Haddad. Os pagamentos não contabilizados teriam sido acertados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros integrantes do PT com Marcelo Odebrecht, o pai dele, Emílio, e o ex-diretor de Relações Internacionais Alexandrino de Alencar. Segundo os depoimentos, esses repasses também teriam sido feitos a Santana.

O próprio marqueteiro relatou, em sua delação, sobre a campanha de Haddad. Procurado pelo Estado à época, Haddad informou que todos os recursos recebidos na campanha de 2012 foram devidamente contabilizados e informados ao TRE.

Histórico. Nas últimas eleições municipais, Haddad recebeu apenas 16,7% dos votos e perdeu o mandato já no primeiro turno para o atual prefeito de São Paulo, João Doria Jr. (PSDB).

O petista, que tem 54 anos, foi ministro da Educação nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Ocupava a pasta, em 2009, quando o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a ser um processo seletivo único no País para as universidades públicas.

Professor no Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) desde 1997, Haddad trocou a vida acadêmica pela política quando assumiu a função de chefe de gabinete da Secretaria de Finanças, de 2001 a 2003, na gestão Marta Suplicy. Em 2003, no governo Lula, foi para a equipe do Ministério do Planejamento como assessor especial.

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Como informou o Estado, no início de maio o ex-prefeito de São Paulo pediu licença de dois anos da USP para dar aula no Insper, faculdade privada com especialidade nas áreas de Negócios, Economia, Direito e Engenharia. Lá, o petista vai lecionar a disciplina de Administração e Gestão Pública na pós-graduação.

COM A PALAVRA, FERNANDO HADDAD

Com relação a Operação Cifras Ocultas, deflagrada hoje de manhã pela Polícia Federal, o ex-prefeito Fernando Haddad, por sua assessoria, informa que a gráfica citada, de propriedade do ex-deputado Francisco Carlos de Souza, prestou apenas pequenos serviços devidamente pagos pela campanha e registrados no TRE.

A UTC teve seus interesses contrariados no início da gestão Haddad na Prefeitura, com o cancelamento das obras do túnel da avenida Roberto Marinho, da qual fazia parte junto com outras empreiteiras igualmente envolvidas na Lava Jato. O executivo da UTC, Ricardo Pessoa, era dos mais inconformados com a decisão.

O propalado repasse de R$ 2,6 milhões, se ocorreu, não tem nada a ver com a campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo em 2012, até porque seria contraditório uma empresa que teve seus interesses prejudicados pela administração, saldar uma dívida de campanha deste administrador.

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