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Ex-sócio diz à PF que comprou casa da mãe de Dirceu

Julio César dos Santos, que dividiu empresa de consultoria com ex-ministro, afirmou em depoimento que pagou R$ 250 mil por residência em Passa Quatro (MG), em 2005

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 Foto: Dida Sampaio/Estadão

Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

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O ex-sócio de José Dirceu na empresa de consultoria JD Asssessoria e Consultoria, Julio César dos Santos, afirmou à Polícia Federal, nesta quarta-feira, 5, que comprou e registrou a casa da mãe do ex-ministro, em Passa Quatro (MG), entre 2004 e 2005. Os dois estão presos desde segunda-feira, alvos da Operação Pixuleco - 17ª fase da Lava Jato.

A residência de dona Olga Guedes da Silva, de 94 anos, teria sido comprada pelo valor de R$ 250 mil. A aquisição ocorreu durante o período em que Dirceu foi ministro-chefe da Casa Civil no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Para o delegado da Polícia Federal Márcio Adriano Anselmo, que integra a equipe da Lava Jato, o uso do nome de empresa do ex-sócio pode ter sido adotado como forma de ocultar a propriedade do imóvel.

"O Julio alega que comprou em razão de ser amigo pessoal do Dirceu", disse o delegado.

 

A prisão temporária de Julio César vence esta semana. Ele foi sócio do ex-ministro na JD Assessoria e Consultoria até 2012. A empresa foi usada pelo ex-ministro, após ele deixar o governo Lula, em 2005, para prestar consultoria e dar palestras. Investigadores da Lava Jato sustentam, porém, que a firma serviu para ocultar propina do esquema de cartel e corrupção na Petrobrás - em oito anos de atividades, a JD faturou R$ 39 milhões, dos quais R$ 21,3 milhões em depósitos mensais e ininterruptos realizados por apenas três grupos empresariais.

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Delator relata reunião com Dirceu, Vaccari, Duque e Bob, em 2013

Dirceu divide cela com dois contrabandistas

Durante o governo Marta Suplicy (PT), na Prefeitura de São Paulo, Julio César dos Santos foi diretor da Anhembi Turismo, atual SP Turis. Trabalhou também com o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, flagrado no mensalão recebendo um Land Rover de presente de uma empreiteira que mantinha contrato com a Petrobrás.

"O Julio pode ter sido usado para ocultação de patrimônio. São dois terrenos juntos. Tem a casa, que está em nome dele, e uma outra que foi comprada pelo Julio e tinha um contrato de gaveta ali."

Dirceu já é suspeito de ter recebido imóveis e reformas do lobista Milton Pascowitch, como forma de ocultar propina desviada da Petrobrás. Uma dessas casas está também registrada em nome da TGS Consultoria, empresa do ex-sócio de Dirceu.

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Buscas. O delegado afirmou que importante material foi apreendido na casa do irmão e atual sócio de Dirceu na JD, Luiz Eduardo Oliveira e Silva, em Ribeirão Preto.

O irmão de Dirceu, que passou a ser um de seus contatos com o esquema após o ex-ministro ser condenado no Mensalão, está sendo ouvido pela PF na tarde desta quinta-feira, 6. Ele foi preso temporariamente na segunda-feira, pela Operação Pixuleco.

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE IMPRENSA DO EX-MINISTRO JOSÉ DIRCEU

NOTA 1 - Sobre três maiores pagadores à JD Assessoria e Consultoria

A assessoria do ex-ministro José Dirceu informa que é equivocada e sem qualquer fundamento a afirmação, registrada pelo blog, de que a JD Assessoria e Consultoria teria faturado "R$ 21,3 milhões em depósitos mensais e ininterruptos realizados por apenas três grupos empresariais".

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Embora a reportagem não esclareça quais seriam as três empresas nem a fonte da informação, basta lembrar que a relação e os valores de todos os contratos da JDA tornaram-se públicos quando a Justiça Federal do Paraná levantou, ainda em março, o sigilo sobre as informações, recebendo ampla atenção de toda a mídia nacional.

Entre os três maiores contratos da empresa do ex-ministro, existe apenas uma construtora investigada na Operação Lava Jato, a UTC, que faturou contra a JDA R$ 3,086 milhões, entre 2012 e 2014, conforme contratos e notas fiscais encaminhada à Justiça. A empresa com maior faturamento contra a JDA é um laboratório farmacêutico brasileiro e a segunda, uma multinacional mexicana.

Em nota divulgada na segunda-feira (3), o advogado Roberto Podval também já havia alertado para o cálculo equivocado apresentado pela Polícia Federal sobre os supostos recebimentos ilícitos por meio da JDA. Na coletiva daquela manhã, o delegado Márcio Anselmo afirmou que o montante chegaria a R$ 39 milhões. "Esse é o total faturado pela empresa em 8 anos de atividade, quando atendeu a cerca de 60 clientes de quase 20 setores diferentes da economia", diz Podval. "Não há qualquer razoabilidade imaginar que os pagamentos de multinacionais de diversos setores da indústria teriam relação com o suposto esquema criminoso na Petrobras."

Desde 2006, a JDA foi contratada por empresas como a Ambev, Hypermarcas, Grupo ABC, Telefonica, EMS, além dos empresários Carlos Slim e Gustavo Cisneros. Todos, quando procurados pela imprensa, confirmaram a contratação do ex-ministro para orientação de negócios no exterior ou consultoria política.

NOTA 2 - Sobre o escritório Unicon Contabilidade

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A assessoria do ex-ministro José Dirceu informa que a Unicon é a empresa responsável pela contabilidade da JD Assessoria e Consultoria desde sua fundação. Os pagamentos à Unicon são relativos aos serviços prestados em todo o período.

NOTA 3 - Sobre contrato com empresa de Zaida Sisson

A assessoria do ex-ministro José Dirceu refuta com veemência a ilação, apontada por investigadores da Operação Lava Jato, segundo registra este blog, da existência de "uma triangulação entre a JDA e a consultora Zaida Sisson em um esquema de propina oculto em forma de consultoria".

"Não há nada mais inverossímil. Pelo contrário, a parceria com a consultora Zaida Sisson só comprova, além da documentação já apresentada pela defesa, que o ex-ministro efetivamente prestou consultoria, no Peru, para construtoras investigadas na Lava Jato", afirma o advogado Roberto Podval. "O detalhamento do trabalho prestado pela JDA e por Zaida Sisson depõe contra a tese dos investigadores de que os contratos do ex-ministro com as empreiteiras seriam mera fachada para recebimentos ilícitos oriundos da Petrobras".

Zaida Sisson trabalhou em parceria com o ex-ministro na prospecção de negócios no Peru para clientes da JD Assessoria e Consultoria, conforme a defesa de José Dirceu vem afirmando publicamente desde janeiro. No período de parceria, a empresa de Zaida Sisson no Brasil, a Blitz Trading recebeu da JDA R$ 364,3 mil por seus serviços prestados.

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A JDA prestou consultoria no Peru às construtoras Engevix, OAS, Galvão Engenharia e UTC, que já reconheceram publicamente a razão da contratação. Todas as informações sobre os contratos foram encaminhadas pela defesa do ex-ministro à Justiça Federal do Paraná.

 

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