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Entenda as suspeitas de Janot contra Dilma e Lula

Procurador-geral da República atribui a presidente e a seu antecessor suposta trama para barrar a Operação Lava Jato

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Foto do author Fausto Macedo
Foto do author Julia Affonso
Por Fausto Macedo , Julia Affonso , Ricardo Brandt e e Mateus Coutinho
Atualização:

Dilma e Lula são alvos da Procuradoria. Fotos: Dida Sampaio e Werther Santana/Estadão Foto: Estadão

As suspeitas do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff envolvem os petistas em suposta trama para barrar a Operação Lava Jato. Janot atribui à Dilma e a seu antecessor uma articulação para dar a Lula o foro privilegiado ao entregar a ele o cargo de ministro-chefe da Casa Civil.

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Em relação a Lula recaem ainda suspeitas de favorecimento à empreiteira Andrade Gutierrez. Janot denunciou o ex-presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF) por obstrução à Justiça e, simultaneamente, requereu a inclusão do petista no inquérito-mãe da Lava Jato na Corte máxima.

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Em outro procedimento encaminhado ao STF, o procurador requereu abertura de investigação contra Dilma, o advogado-geral da União e ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e o próprio Lula. Neste caso, Janot atribui preliminarmente aos três obstrução à Justiça.

Parte da investigação de Janot sobre Lula se baseou nos relatos de delatores e nos grampos da Operação Aletheia, deflagrada em 4 de março, quando o ex-presidente foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para depor.

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ENTENDA A INVESTIGAÇÃO DE JANOT

- 'Articulações espúrias'

O procurador-geral da República atribui a Lula 'articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava Jato'. Segundo Janot, 'embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula mantém o controle das decisões mais relevantes'.

- 'Compra do silêncio de Nestor Cerveró'

O senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS) afirmou, em delação premiada, que Lula o teria incumbido de 'viabilizar a compra do silêncio de Nestor' para proteger o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. O ex-líder do Governo entregou à Procuradoria-Geral da República uma série de documentos que, segundo ele, comprovam seu encontro com Lula para tramar contra a Operação Lava Jato.

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- 'Controle da Organização'

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Janot afirma em petição ao Supremo. "Os diálogos interceptados com autorização judicial não deixam dúvidas de que, embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula mantém o controle das decisões mais relevantes, inclusive no que concerne as articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava Jato, a sua nomeação ao primeiro escalão, a articulação do PT com o PMDB, o que perpassa o próprio relacionamento mantido entre os membros destes partidos no concerto do funcionamento da organização criminosa ora investigada", crava o procurador.

"Com isso, quer-se dizer que, pelo panorama dos elementos probatórios colhidos até aqui e descritos ao longo dessa manifestação, essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse. Nesse sentido, foram os diversos relatos dos colaboradores e os próprios diálogos interceptados."

- 'Parte de um cenário'

Janot pediu a investigação sobre a presidente com base na delação premiada do senador Delcídio Amaral e no fato de Dilma ter nomeado Lula ministro-chefe da Casa Civil no auge da Operação Aletheia, desdobramento da Lava Jato que pegou o ex-presidente em março deste ano. A indicação teria como objetivo dar foro privilegiado a Lula. Desta forma, o ex-presidente ficaria livre do juiz federal Sérgio Moro.

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Segundo procurador, a nomeação de Lula para o ministério fez parte de um "cenário" em que foram identificadas diversas tentativas de atrapalhar as investigações criminais da Lava Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobrás.

- 'Obras passadas, presentes e futuras'

Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, afirmou à Procuradoria-Geral da República que a empreiteira pagou cerca de R$ 40 milhões ao PT em propina. O acerto foi discutido em 2008, abrangendo contratos desde o primeiro ano do governo Lula (2003) em diante.

Segundo Janot, baseado no conteúdo das delações, 'ficou acertado que o pagamento da propina seria feito em relação a algumas obras em andamento e a todas as futuras'.

COM A PALAVRA, DILMA ROUSSEFF

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Ao final da cerimônia de lançamento do Plano Safra, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff voltou a questionar, em declaração à imprensa nesta quarta-feira, 4, a decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de pedir abertura de inquérito ao Supremo Tribunal Federal contra ela, sob acusação de tentativa de obstruir as investigações da Operação Lava Jato.Depois de reiterar que as afirmações do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), que serviram de base para o pedido, são "levianas e mentirosas",Dilma disse que "é necessário investigar da onde surgem essas afirmações e comprovar" eque os vazamentos "têm interesses escusos e inconfessáveis"."Você vaza, depois se se caracterizar que nada há o dano já foi feito. E daí o que querem com isso? Querem o dano feito", afirmou.

COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DE LULA: 

" A peça apresentada pelo Procurador-Geral da República indica apenas suposições e hipóteses sem qualquer valor de prova. Trata-se de uma antecipação de juízo, ofensiva e inaceitável, com base unicamente na palavra de um criminoso.

O ex-presidente Lula não participou nem direta nem indiretamente de qualquer dos fatos investigados na Operação Lava Jato.

Nos últimos anos, Lula é alvo de verdadeira devassa. Suas atividades, palestras, viagens, contas bancárias, absolutamente tudo foi investigado, e nada foi encontrado de ilegal ou irregular.

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Lula sempre colaborou com as autoridades no esclarecimento da verdade, inclusive prestando esclarecimentos à Procuradoria-Geral da República.

O ex-presidente Lula não deve e não teme investigações."

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