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'Destruir e-mail sondas', pede Marcelo Odebrecht, na prisão

PF apreende bilhete com presidente da maior empreiteira do País capturado na Lava Jato por suspeita de cartel e corrupção

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Por Redação
Atualização:

Marcelo Odebrecht na sexta-feira, quando foi preso. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Atualizada às 19h59

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Por Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba

A Polícia Federal informou à Justiça ter apreendido, por volta de 10h da segunda-feira, 22, um bilhete manuscrito do empresário Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, que seria entregue a seus advogados. O bilhete, segundo a PF, contém a expressão 'destruir e-mail sondas'. Nesta quarta-feira, 24, a PF informou ao juiz Sérgio Moro, que conduz as ações penais da Operação Lava Jato, que "como de praxe as correspondências dos internos são examinadas por medida de segurança".

A PF copiou o bilhete. Na noite de ontem, 23, a própria defesa da empreiteira entregou petição a Moro em que apresenta sua versão para o caso.

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 Foto: Reprodução

Segundo a PF, uma das provas da Lava Jato que pode incriminar Marcelo Odebrecht, preso desde sexta-feira, 19, é uma troca de e-mails entre funcionários da empreiteira. A mensagem eletrônica, de 2011, faz referência à colocação de sobrepreço de US$ 25 mil por dia em contrato de afretamento e operação de sondas.

O e-mail foi enviado por Roberto Prisco Ramos para Marcelo Odebrecht e três executivos da empreiteira, Fernando Barbosa, Márcio Faria e Rogério Araújo, estes dois últimos também presos.

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A descoberta do bilhete foi comunicada à Justiça Federal pelo delegado Eduardo Mauat da Silva, que integra a força-tarefa da Lava Jato. Ele informou que na manhã de terça-feira, 23, os advogados de Odebrecht, Dora Cavalcanti e Rodrigo Sanches Rios, estiveram em seu gabinete, ' os quais ponderaram que o verbo 'destruir' se referia a uma estratégia processual e não a supressão de provas, destacando que o documento original teria sido levado a São Paulo por outro advogado e que iriam apresentá-lo'.

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Banqueiro. No bilhete de Marcelo Odebrecht há também uma citação ao nome André Esteves, que seria o dono do BTG Pactual. O banco não quis se pronunciar, mas para pessoas próximas a Esteves a referência é parte da estratégia de defesa do empreiteiro. O objetivo seria pedir a Esteves, sócio da Sete Brasil - empresa investigada pela Lava Jato e criada para fornecer equipamentos à Petrobrás, entre eles sondas para exploração de petróleo -, que explique publicamente a "concepção" da empresa.

A avaliação é que Esteves teria elementos para ajudar a desconstruir a tese da força-tarefa sobre o e-mail no qual Ramos fala em "sobrepreço" na contratação dos equipamentos. / COLABOROU RICARDO GALHARDO

COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

A Odebrecht manifesta sua indignação sobre o incidente processual que se tentou criar em torno de um bilhete do seu diretor-presidente, Marcelo Odebrecht, endereçado a seus advogados. Sobre o tema, esclarece:

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" O bilhete foi entregue pelo executivo a um agente policial, para que fosse encaminhado a seus advogados, o que mostra a boa fé do ato. A autoridade policial assim o fez, entregando a mensagem aos advogados, mas julgou por bem copiá-la e representar ao juiz responsável pelo caso, com questionamentos acerca da expressão "destruir e-mails sondas RR".

" A simples leitura do bilhete mostra que não há motivos para este questionamento. O bilhete foi redigido pelo executivo a partir do despacho judicial que expediu mandado de prisão para diretores da Odebrecht. Trata-se de orientação aos advogados para os diversos tópicos para os esclarecimentos que serão prestados no habeas corpus a ser impetrado. Tanto que o título do bilhete é "Pontos para o HC (de habeas corpus)".

" Ao tratar do tópico sobre a troca de e-mails entre executivos da Odebrecht, razão alegada para a prisão dos executivos da empresa - medida manifestamente ilegal - o diretor-presidente utiliza a expressão "destruir e-mail sondas RR", referindo-se a Roberto Ramos, autor de uma das mensagens, então na Braskem e que trabalhava na constituição da Odebrecht Óleo e Gás. Uma seta manuscrita liga a expressão "destruir e-mails sondas RR" aos argumentos que o diretor-presidente sugere para explicar as discussões contidas na sequência de mensagens.

" O diretor-presidente elenca fatos que esclarecerão que tratava-se de uma discussão sobre um negócio a ser firmado entre empresas privadas (entre elas a Sete Brasil), em torno da construção e operação de sondas de perfuração de petróleo. Nesta discussão, diferentemente do que o juiz encarregado do caso interpretou, o termo "sobre-preço" utilizado por Roberto Ramos, nada tem a ver com "superfaturamento" ou qualquer irregularidade. "Sobre-preço" representa apenas a remuneração contratual que a Odebrecht Óleo e Gás, como operadora de sondas, propôs à Sete Brasil, e que compreende o reembolso do custo de operação e manutenção ("cost") das sondas, acrescido de uma remuneração fixa sobre o referido custo. Ou seja, representa a tradução do termo, usual no mercado, "cost plus fee".

" Portanto, não há nenhuma sugestão, no bilhete de Marcelo Odebrecht, que sugira que se cometa qualquer ilegalidade. Além de não corresponder à conduta do executivo, nem faria sentido uma sugestão de se "destruir" (não no conteúdo, como era a intenção, mas literalmente, como interpretou a autoridade policial) e-mails que foram apreendidos em operação realizada em novembro de 2014, que foram amplamente periciados e tornados públicos. Destruir algo que já está em poder da PF e do juiz Sergio Moro não faz o menor sentido. Ou seja, a palavra destruir só pode ter outro significado.

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A Odebrecht, finalmente, lamenta que se tenha criar um incidente processual sobre uma expressão tirada obviamente do contexto. Os advogados da empresa tentaram, por meio de petição e contatos pessoais, fazer ver a autoridade policial a falta de sentido em se criar suspeitas sobre o tema, mas infelizmente esta optou por dar publicidade e ares de escândalo em um bilhete com simples orientações do cliente para seus advogados - ferindo assim a proteção desta relação que a Lei garante a todos os cidadãos brasileiros.

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