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Ex-assessor de Lula não pediu 'desconto' em obra de Atibaia, diz testemunha

Empreiteiro Carlos Rodrigues do Prado prestou depoimento ao juiz federal Sérgio Moro nesta segunda-feira, 19, e disse que entregou orçamento de reforma na propriedade rural a Rogério Aurélio Pimentel

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Por Julia Affonso , Luiz Vassallo e Ricardo Brandt
Atualização:

Sítio Santa Bárbara. Foto: Márcio Fernandes/Estadão

O empreiteiro Carlos Rodrigues do Prado afirmou nesta segunda-feira, 19, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que entregou o orçamento de uma obra do sítio de Atibaia (SP) a um ex-assessor do ex-presidente Lula. Segundo ele, Rogério Aurélio Pimentel aprovou os valores sem discussão e sem pedido de 'desconto' em um posto de gasolina próximo à propriedade rural. Carlos Rodrigues Prado falou à Operação Lava Jato como testemunha de acusação em ação penal contra o petista.

O empreiteiro afirmou ter cobrado o montante de R$ 163 mil, dividido em quatro vezes, para fazer a obra em 2010. De acordo com ele, a reforma teve início em dezembro daquele ano e 'rolou ali uns 30 dias, mais ou menos'.

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Ao juiz Moro, o empreiteiro relatou que foi chamado pelo engenheiro Frederico Barbosa, ligado à Odebrecht, para terminar a obra de dois cômodos e de uma guarita do sítio. Segundo Carlos do Prado, o engenheiro o apresentou a Rogério Aurélio Pimentel, ex-assessor de Lula e também réu na ação sobre as reformas do sítio de Atibaia. O ex-presidente é acusado por corrupção e lavagem de dinheiro.

"Eu não sabia nem o nome dele (Aurélio). Depois que eu fiquei sabendo que o Aurélio é uma pessoa que negociava ou acertava os negócios da obra. Inicialmente, a única pessoa que eu conhecia lá era o seu Frederico. Esse Aurélio foi quando eu fiz o orçamento, que eu liguei para o Frederico: 'olha, o orçamento da obra está pronto'. A gente encontrou em um posto de gasolina que tinha lá antes de chegar na obra e encontrei com o Frederico e esse Aurélio. Ele (Frederico) falou: 'o dono da obra é esse daqui'. Eu passei para ele, eles conversaram lá e a gente começou a tocar a obra", contou.

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O empreiteiro foi questionado pelo Ministério Público Federal sobre o orçamento da obra. O procurador quis saber se Carlos do Prado havia passado a estimativa dos gastos a Aurélio e também se o ex-assessor de Lula havia concordado.

"Concordou. Não teve assim nem discussão: 'Ah, me dá um desconto'", disse Carlos do Prado.

"O Frederico tinha me comentado que a obra ia ser tocada todos os dias e não tinha horário para parar, poderia parar 20h, 21h, ia depender do avanço da obra. Então, não teve muito assim discussão: 'ah, me faz isso aqui mais barato' ou 'isso aqui está caro'. Não houve essa discussão."

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Carlos do Prado narrou que colocou '10, 11 pessoas, não passou disso'.

"O Frederico falava ali em 30 dias, disse que em 30 dias a obra tinha que estar pronta", disse.

O empreiteiro relatou que combinou de receber o pagamento 'por semana em espécie'.

O Ministério Público Federal perguntou a Carlos do Prado quem era o responsável pelo pagamento.

"O Aurélio", respondeu o empreiteiro.

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"Sempre quando ele ia para o sítio, nesse posto de gasolina, a gente se encontrava lá. Ele me entregava o envelope, eu pegava e ia embora. (...) Normalmente ele anotava em um envelope, um papelzinho com o valor que estava lá dentro. Eu pegava, conferia, tudo certo."

A última parcela foi paga, segundo Carlos do Prado, em 8 de Fevereiro de 2011: R$ 43 mil.

"Foi o último pagamento, que a gente já não estava nem com funcionário lá. Eu recebi isso aí, inclusive foi feito um depósito desse restante", afirmou.

A denúncia do Ministério Público Federal, no caso do sítio de Atibaia, aponta que Aurélio é ex-servidor da Presidência da República e foi o responsável pelo recebimento dos bens do petista no sítio em 8 de janeiro de 2011. Segundo a Lava Jato, naquele ano, Aurélio 'era servidor ocupante de cargo em comissão da Presidência da República e assessorava Lula diretamente'.

"Rogério Aurélio era pessoa da estrita confiança de Lula, tendo desempenhado funções de destaque durante todo o processo de reforma do sítio em benefício do então Presidente da República", acusa a Procuradoria da República.

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A reportagem fez contato com a defesa de Roberto Teixeira. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA

"Carlos Rodrigues Prado afirmou que jamais teve conhecimento de qualquer relação entre contratos da Petrobras e a reforma que disse ter realizado no sítio de Atibaia, que é a real acusação feita pelo Ministério Público contra o ex-Presidente Lula.

A testemunha também não fez referência a qualquer atuação de Lula em relação a essa reforma, que, se realizada, foi incorporada à propriedade de bem imóvel que pertence à família Bittar.

O depoimento dessa testemunha, portanto, reforça a improcedência da acusação feita contra Lula e o "lawfare" praticado contra o ex-Presidente, que consiste no mau uso e no abuso das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política.

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CRISTIANO ZANIN MARTINS", advogado de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

COM A PALAVRA, O ADVOGADO JOÃO VICENTE AUGUSTO NEVES, QUE DEFENDE ROGÉRIO AURÉLIO PIMENTEL

"O depoimento apresentou uma série de contradições com o depoimento do Frederico Barbosa. Ele não diz ao certo quantas vezes esteve na obra, depois não diz ao certo onde encontrou com o Rogério. Ele alega ter encontrado com o Rogério quatro vezes para receber. O Rogério nega isso, que nunca encontrou com ele para fazer nem um tipo de pagamento. Ele se confunde na hora de descrever o Rogério. Ele não descreve fisicamente como era essa pessoa que se encontrou com ele para entregar quatro envelopes com uma quantia considerável de dinheiro. O Rogério nega que tenha encontra com ele para fazer qualquer repasse."

COM A PALAVRA, ODEBRECHT

"A Odebrecht continua colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Está empenhada em ajudar a esclarecer qualquer dúvida sobre os relatos apresentados por seus executivos e ex-executivos. O acordo de colaboração da Odebrecht já se provou eficaz, inclusive com desdobramento em novas investigações e processos judiciais no Brasil e no exterior. A Odebrecht está comprometida a combater e não tolerar a corrupção, qualquer que seja a sua forma."

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