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Antena pegou onze ligações de lobista do PMDB no dia da reunião com Eduardo Cunha

Relatório mostra que Fernando Baiano fez contatos em 18 de setembro de 2011, o que para a Procuradoria confirma encontro no Leblon em que deputado teria exigido US$ 5 milhões

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Atualização:

Julio Camargo denunciou propina a Eduardo Cunha. Fotos: Reprodução e Estadão Foto: Estadão

Por Fausto Macedo, Julia Affonso, Andreza Matais, Talita Fernandes e Beatriz Bula

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A principal evidência de que o delator Júlio Camargo disse a verdade sobre a reunião que afirma ter tido com o deputado Eduardo Cunha, em 2011 - quando o presidente da Câmara teria exigido a propina de US$ 5 milhões - é o rastreamento das ligações do celular do lobista do PMDB na Petrobrás Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano. Os investigadores descobriram que Baiano, braço-direito de Cunha, também participou do encontro, no dia 18 de setembro daquele ano, um domingo, segundo Relatório de Análise 89/2015 da Procuradoria-Geral da República.

O presidente da Câmara foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público Federal na quinta-feira, 20. Como o deputado nega ter se encontrado com o delator e exigido a propina, a Procuradoria fez um impressionante trabalho de investigação, poucas vezes visto em casos de corrupção. Reconstituiu os passos dos personagens desse capítulo da Lava Jato - Baiano, Cunha e Júlio Camargo. O delator revelou que Cunha e Baiano o encontraram em um prédio comercial do Leblon no Rio, o Leblon Empresarial, situado na Avenida Ataulfo de Paiva.

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 Foto: Estadão

O local exato da reunião foi uma das salas da empresa SIDUS Consultoria e Pesquisa, no terceiro andar, de propriedade de Sérgio Roberto Wayne, advogado e amigo de Baiano. O endereço se encontra dentro do ângulo de alcance da antena que captou os contatos de Fernando Baiano.

Segundo a Procuradoria, Fernando Baiano tinha as chaves do local. O rastreamento das ligações de Baiano mostra que pouco antes da reunião, entre 18h48 e 19h20, ele fez oito contatos via rádio - vinculado à empresa Hawk Eyes, de sua propriedade - com o proprietário do escritório.

 Foto: Estadão

Entre 19hs e 21hs, o lobista do PMDB fez outros três contatos pelo celular com um número cadastrado em nome de Weyne e Costa Advogados. As ligações foram captadas por antena de transmissão instalada na Avenida Ataulfo de Paiva. A Procuradoria sustenta que Baiano fez os contatos para avisar o dono do escritório que iria ocupar o imóvel naquele domingo.

A Procuradoria constatou que Eduardo Cunha, de fato, estava no Rio naquele fim de semana. Em consulta à cota para exercício de atividade parlamentar do peemedebista, no Portal da Câmara, obteve-se a informação que ele voou para o Rio.

 Foto: Estadão

No dia da reunião, o delator Júlio Camargo voou de Congonhas, São Paulo, para Santos Dumont, no Rio, às 17h30 - retornou para São Paulo às 21 hs. O motorista do delator, João Luiz Cavalheiro, confirmou que pegou Júlio Camargo no aeroporto e o levou em uma Toyota Camry preto, placas ELL-2211, até a esquina das Avenidas Ataulfo de Paiva com Afrânio de Mello Franco. Aguardou por cerca de uma hora e meia e, depois, levou Júlio Camargo de volta ao aeroporto.

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A Procuradoria afirma que Baiano e o deputado chegaram ao Leblon em uma Range Rover, placas EIV-8877. Devido à ausência de garagem no Leblon Empresarial, alguns condôminos alugam vagas do estacionamento mensal do prédio vizinho, Rio Design Leblon, com acesso pela Avenida Afrânio de Mello Franco.

O estacionamento confirmou aos investigadores a entrada no dia 18 de setembro de 2011, no horário da reunião da propina, da Range Rover, que está em nome da empresa Technis, de Fernando Baiano.

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Segundo a Procuradoria, iniciada a reunião, Eduardo Cunha solicitou a Júlio Camargo o 'pagamento da vantagem indevida'. Cunha disse, segundo o delator. "Júlio, em primeiro lugar eu quero dizer que não é nenhum problema pessoal em relação a você. Acontece que o Fernando não me paga porque diz que você não o paga. Como o Fernando não tem capacidade de me pagar, eu preciso que você me pague."

A denúncia da Procuradoria contra Eduardo Cunha diz que o delator tentou se justificar, mas o deputado 'foi irredutível'. "Eu não sei da história e nem quero saber", teria dito Eduardo Cunha. "Eu tenho um valor a receber do Fernando Soares e que ele atrelou a você."

A denúncia afirma. "Então, Eduardo Cunha solicitou expressamente a quantia de cinco milhões de dólares faltantes." Nas palavras do delator, o presidente da Câmara disse. "Eu ainda tenho a receber 5 milhões de dólares em relação a este pacote."

"Em vista da pressão ficou estipulado que Júlio Camargo pagaria US$ 10 milhões, sendo US$ 5 milhões para Eduardo Cunha e US$ 5 milhões para Fernando Soares, o que foi aceito", diz a denúncia do procurador-geral da República Rodrigo Janot. "Eduardo Cunha, no entanto, solicitou a Júlio Camargo que tivesse preferência no recebimento do pagamento, pois tinha urgência."

A Procuradoria afirma que Júlio Camargo se valeu do auxílio do doleiro Alberto Youssef para operacionalizar o pagamento de parte da propina, 'mediante formas de ocultação e dissimulação'.

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Fernando Baiano foi condenado a 16 anos de prisão na Justiça Federal do Paraná. Como não detém foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal, ele foi processado na 1ª instância. Na segunda-feira, 17, o juiz Sérgio Moro condenou Baiano e o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro.

COM A PALAVRA, A DEFESA:

Em nota, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que está absolutamente sereno e refutou "as ilações" das denúncias apresentadas nesta tarde pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF).

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