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Almirante recebeu propina desde a véspera de edital de Angra 3, diz MPF

Segundo força-tarefa da Lava Jato, pagamentos a Othon Luiz, presidente licenciado da Eletronuclear, se prolongaram até 2015 e podem ter atingido R$ 30 milhões

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Por Redação
Atualização:

Othon Luiz Pinheiro da Silva. Foto: Beto Barata/AE

Por Julia Affonso, Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Fábio Fabrini

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A força-tarefa da Operação Lava Jato identificou que a empresa Aratec Engenharia Consultoria e Representações, do presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pereira da Silva, recebeu depósitos das empreiteiras que compõem o Consórcio Angramon, montador da Usina Angra 3, desde às vésperas da publicação do edital de pré-qualificação até meados de 2015. O almirante Othon Luiz Pereira da Silva e o presidente da Unidade Negócios Energia da Andrade Gutierrez, Flavio David Barra, foram presos temporariamente nesta terça-feira, 28, na 16ª fase da Lava Jato, batizada de Radioatividade.

"Trata-se de esquema criminoso atual, o que se corrobora em virtude de os contratos celebrados pelo consórcio Angramon e a Eletronuclear para construção de Angra 3 estarem na fase inicial de execução, e, portanto, as propinas prometidas pelas empreiteiras e solicitadas pelo agente público devem estar sendo hodiernamente a este repassadas", afirmam os procuradores da força-tarefa em documento anexado aos autos da investigação.

PF aponta trilha da propina para almirante da Eletronuclear

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Os procuradores suspeitam que Othon Luiz recebeu R$ 30 milhões em propinas, valor equivalente a 1% dos contratos da estatal com as empresas consorciadas.

Chamou atenção dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato o fato de que, em 25 de fevereiro de 2015, após a divulgação de notícias envolvendo empreiteiros denunciados pela Lava Jato com contratos em Angra 3, o almirante tenha se retirado formalmente do contrato social da Aratec. A empresa atualmente possui como administradora a filha de Othon Luiz. 

"Mas os indícios dão conta que o real controlador da Aratec é o representado Othon Luiz que se retirou formalmente da sociedade apenas para preservar sua imagem", sustentam os procuradores. "Há consistentes indícios de que Othon Luiz tenha efetivamente se valido da empresa Aratec para receber os valores de propina anteriormente combinados - sem prejuízo da posterior identificação de outros meios de pagamento."

 Foto: Estadão

O ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini revelou, em delação premiada, que às vésperas das assinaturas dos contratos entre o Consórcio e a Eletronuclear foi realizada uma reunião, na sede da UTC Engenharia - apontada como líder do cartel de empreiteiras -, em que foi discutida a sistemática de pagamento de propinas de Angra 3, em agosto de 2014. A convocação do encontro foi dirigida a "alta administração" das empresas envolvidas.

"O ajuste entre as empreiteiras para o pagamento das propinas ocorreu em reunião na sede da UTC, em 26 de agosto de 2014, da qual participaram, segundo Dalton Avancini, os executivos Flávio David Barra (Andrade Gutierrez), Ricardo Ouriques Marques (Techint), Ricardo Ribeiro Pessoa (UTC), Fabio Gandolfo(Odebrecht), Petrônio Braz Júnior (Queiroz Galvão) e Renato Ribeiro Abreu (EBE), a quais, em sua maioria, viriam a assinar pelas respectivas empresas os contratos com a Eletronuclear para construção da usina de Angra 3", apontam os procuradores.

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COM A PALAVRA, A ODEBRECHT

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"A Construtora Norberto Odebrecht esclarece que na manhã desta terça-feira, 28 de julho, foi alvo de busca e apreensão em sua sede, no Rio de Janeiro, bem como na residência de um de seus executivos, que também foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento perante a Polícia Federal no Rio de Janeiro.

Todos os nossos executivos, assim como a empresa, sempre estiveram à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e apresentar documentos no âmbito das investigações da operação Lava Jato, sendo injustificáveis as medidas empreendidas nesta data."

A CNO reafirma que nunca participou de oferecimento ou pagamento de propina em contratos com qualquer cliente público ou privado, o que obviamente inclui a Eletronuclear, portanto não reconhece como verdadeiras as afirmações de delator premiado que, visando obter a sua liberdade, em razão de prisão preventiva, não tem qualquer compromisso com a verdade. "

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