'Clube' do 2º turno faz municípios se mobilizarem para ampliar eleitorado

Seleto grupo de cidades com mais de 200 mil eleitores deve ganhar 6 novos integrantes em 2012

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Por Bruno Lupion , e Daniel Bramatti e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

SÃO PAULO - O seleto clube de cidades onde pode haver segundo turno deve ganhar seis novos integrantes neste ano. Em três delas, houve mobilização da sociedade para ultrapassar a barreira dos 200 mil eleitores - o número mínimo exigido para uma eleição em duas etapas.

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Quatro das cidades "emergentes" do mundo político ficam no Estado de São Paulo: Barueri, Limeira, Taubaté e Itaquaquecetuba. As outras são Cascavel (PR) e Vitória da Conquista (BA).

Se todos os seis municípios confirmarem a existência de mais de 200 mil eleitores - os dados ainda serão auditados pela Justiça Eleitoral -, o número de cidades com segundo turno chegará a 83. O anúncio oficial será feito até o dia 12 deste mês.

Em 1988, quando a Constituinte instituiu a regra dos dois turnos, apenas 34 municípios se enquadravam na exigência dos 200 mil eleitores ou mais. Desde então, mais 43 ultrapassaram a barreira até 2008, ano das últimas eleições municipais.

Com uma disputa em duas etapas, a reeleição dos prefeitos fica mais difícil. Partidos tendem a lançar mais candidatos próprios, mesmo com reduzidas chances, em vez de se coligar. A eleição fica mais cara.

Mas o que conta, para muitos eleitores, é o fator simbólico de estar em uma espécie de "elite" dos colégios eleitorais - afinal, apenas 1,6% dos municípios brasileiros têm mais de 200 mil votantes.

Jovens. Foi para garantir o ingresso nesse clube que a cidade de Cascavel, no oeste do Paraná, se mobilizou. Capitaneada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), uma campanha incentivou estudantes com 16 e 17 anos a se inscreverem na Justiça Eleitoral. Em março deste ano, o estudante Mateus Souza da Luz se transformou no eleitor número 200.000.

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"Isso alçou o município a um novo patamar", disse o presidente da OAB local, Juliano Murbach. "Alcançamos um novo status. Lideranças políticas já começam a ver Cascavel com outros olhos e vêm à cidade com mais frequência", disse Murbach, citando visitas recentes da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT), e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD).

Em Limeira, no interior paulista, a mobilização partiu de jovens e também visou a possíveis eleitores com menos de 18 anos. Em Vitória da Conquista, na Bahia, quem assumiu a dianteira da campanha foram políticos e radialistas. O foco, porém, foi outro.

A cidade é um polo regional de educação e trabalho e reúne moradores com raízes em municípios do entorno, locais onde muitos preferem votar. Em busca desse eleitor, o mote da campanha foi "Transfira seu título para Conquista".

"Batemos na tecla de que o cidadão precisa ter compromisso com a cidade", disse o vereador Alexandre Pereira (PT). "Não faz sentido morar aqui e votar em outro lugar."

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Pereira lembra que a Câmara Municipal fez campanha similar em 2008, quando o município alcançou 197 mil eleitores.

O vereador acredita que os dois turnos dão visibilidade nacional à cidade. "A disputa política ganha mais espaço nos meios de comunicação, e em geral as pessoas vinculam a ideia do segundo turno a uma cidade grande." Segundo ele, os maiores interessados no aumento do colégio eleitoral eram os cerca de 300 candidatos a vereador, que operaram como um "exército em campo", pedindo que os moradores transferissem seu título.

O radialista Herzem Gusmão, apresentador do programa de rádio mais tradicional da cidade, foi o protagonista do movimento em 2008 e, hoje, é o principal candidato da oposição à prefeitura, pelo PMDB. "Fizemos um esforço intenso em busca do segundo turno para evitar que um candidato seja eleito sem representar a maioria. Aqui acontecia muito de o segundo e o terceiro colocados, juntos, terem mais votos que o primeiro."

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Segundo Gusmão, antes da campanha, Vitória da Conquista chegou a ter cerca de 15 mil moradores votando em municípios vizinhos. "Conquista abastece essas cidades com tudo, até com eleitores", ironizou.

Houve mobilizações em outras cidades com eleitorado próximo ao número de 200 mil, mas sem sucesso - é o caso de Suzano (SP) e Governador Valadares (MG). O crescimento médio de sua população indica que a meta será atingida em 2016.

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