Macri aparece como diretor de uma segunda offshore

Diferente da empresa revelada pelos 'Panama Papers', contudo, a segunda companhia localizada em paraíso fiscal continua em funcionamento

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Por Rodrigo Cavalheiro e correspondente
Atualização:
O presidente da Argentina, Mauricio Macri Foto: EFE

Buenos Aires - O presidente da Argentina, Mauricio Macri, aparece como diretor de uma segunda empresa offshore, criada em 1981 e com sede no Panamá. Assim como no caso da Fleg Trading, citada na apuração do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (CIJI), a companhia Kagemusha foi criada pelo empresário Franco Macri, pai do líder argentino. A diferença em relação à primeira empresa, da qual Macri diz não ter sido acionista ou ganhado remuneração, é que a Kagemusha segue ativa. A Fleg fechou em 2009.

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Questionado sobre o novo caso em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, 5, o chefe de gabinete Marcos Peña, porta-voz do governo, disse que os dois casos são semelhantes. "Podemos garantir que não há empresas em que o presidente tenha ativos. É uma prática das entidades empresariais. O pai colocou os filhos como dirigentes por uma questão de confiança. Não há um movimento de fundo ou de ativos que deva ser declarado. Não há nada não declarado que devesse ser declarado. Apareceram até o momento empresas que não tinham nenhum movimento, nem recursos", disse Peña. Questionado se os casos prejudicam a imagem do presidente, ele afirmou que "as sociedades estão declaradas ao Fisco. Não há nada oculto". As empresas não constam do patrimônio declarado de Macri. O presidente alegou que isso não seria necessário se ele não era acionista e não tinha remuneração.

Diante da visibilidade que a conexão do presidente com paraísos fiscais ganhou exterior, a chanceler Susana Malcorra disse na segunda-feira que a imagem de transparência que o país tenta construir não fica comprometida porque o caso "é de um período anterior (à presidência) e em contexto privado". Ela deu essa declaração antes de ser conhecida a informação sobre a Kagemusha. O nome é uma referência a um filme de Akira Kurosawa que recebeu em português o subtítulo de A Sombra do Samurai. A empresa foi registrada em 11 de maio de 1981, quando Macri tinha 22 anos. Nas atas da empresa publicadas pelo jornal Perfil, Macri aparece com poderes para agir em conjunto com o irmão Gianfranco em caso de morte do pai.

Os questionamentos a Macri desviaram o foco da prisão por superfaturamento de trens do ex-ministro kirchnerista Ricardo Jaime, que em depoimento disse ter agido por ordem expressa do presidente Néstor Kirchner. Jaime, mencionado na Operação Lava Jato, é o primeiro kirchnerista preso, em um momento em que as investigações sobre o governo de Cristina Kirchner ganham corpo. Ela deverá depor no dia 13 em causa de venda de dólar futuro na última etapa de sua administração e o seu ex-ministro do Planejamento, Julio de Vido, foi chamado a esclarecer seu papel na mesma compra de trens que levou Jaime a prisão. 

Funcionários da Casa Rosada admitiram preocupação com o impacto da ligação com empresas em paraísos fiscais sobre a imagem do presidente (Macri tem 50% a 60% de aprovação segundo as três principais consultorias de opinião), criticado pelo tarifaço em serviços públicos. Luz, gás, telefone e transportes aumentaram entre duas e sete vezes. 

Estrategistas de Macri trabalharam para desvinculá-lo da imagem milionária da família, que o impedia de conquistar votos entre a faixa mais pobre da população. O presidente, alvo de um sequestro em 1991, não ostenta a fortuna do clã e recomendou que seus ministros mantenham perfil baixo. Macri declarou antes da eleição um patrimônio de 52 milhões de pesos (R$ 12,5 milhões). Na única aparição na revista Forbes, em 1998, Franco Macri tinha US$ 730 milhões. Nos anos 2000, a família vendeu a parte do patrimônio, ligado à construção e à indústria automobilística, correios, coleta de lixo e indústria de alimentos. FIM