Amigo e ex-advogado de Cunha comandou rede de offshores pela Mossack

Ricardo Magro, que também é dono da refinaria de Manguinhos, no Rio, teve relacionadas a seu nome seis empresas em paraísos fiscais

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Por Rodrigo Burgarelli , Daniel Bramatti , Jose Roberto de Toledo e Guilherme Jardim Duarte
Atualização:
Refinaria de Manguinhos, no Rio Foto: Tasso Marcelo|Estadão

O empresário e advogado Ricardo Andrade Magro tem sido figura recorrente nas páginas de revistas e jornais brasileiros. Primeiro, ele ganhou destaque no noticiário de negócios, quando, em 2008, comprou a Refinaria de Manguinhos, no Rio, e ensaiou uma milagrosa recuperação econômica do empreendimento. Depois, passou a despontar em seções menos desejadas: amigo e ex-advogado do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Magro já foi relacionado a denúncias de evasão fiscal na gestão da refinaria e a supostas compras de decisões judiciais na Justiça paulista. Seu nome apareceu agora em uma nova lista: a dos brasileiros que mantém offshores em paraísos fiscais. Nos documentos do Panama Papers, há menções sobre nada menos que seis offshores ligadas ao empresário paulistano, várias delas diretamente gerenciadas pela firma panamenha Mossack Fonseca, especializada em abrir empresas de fachada em paraísos fiscais. Todas foram criadas em lugares que cobram pouco ou nenhum imposto sobre o patrimônio de pessoas jurídicas ou que facilitam a ocultação dos seus verdadeiros donos, como as Ilhas Cayman ou as Ilhas Virgens Britânicas. Três delas também aparecem ligadas ao escritório do banco HSBC em Mônaco, considerado um paraíso fiscal europeu, que procurou a filial suíça da MF para tratar da criação ou gestão dessas empresas. Os papéis foram obtidos após a reportagem ter acesso a centenas de e-mails trocados entre a agente de Magro e a Mossack. As mensagens começaram a ser enviadas em maio de 2012. A agente em questão é uma funcionária da consultoria Intercorp, um grupo com sedes em Miami e Londres que afirma em seu site fazer “proteção de investimentos” de famílias ricas, “diversificando” a distribuição de recursos em diversos países para “mitigar obrigações tributárias”. No primeiro e-mail, ela pede para a Mossack Fonseca abrir duas offshores para o empresário com o objetivo de adquirir imóveis na Flórida de uso pessoal: uma nas Ilhas Virgens Britânicas e outra em Nevada, nos Estados Unidos. Os diretores seriam de fachada, nomeados pela firma panamenha. 

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Restrições. Após a serem alertados pela Mossack de que a empresa americana não poderia ter diretores fictícios por causa da lei local, a agente então procede com a abertura apenas da primeira offshore. Ela acaba sendo incorporada poucos meses depois, sob o nome de Real Estate Assets and Investments Ltd. No mesmo ano, outro agente da Intercorp entrou em contato com a Mossack para criar outra offshore, a Prime Assets Financial Investments Ltd. Ela foi oficialmente aberta em 2013, e, assim como a Real Estate, teve sua diretoria formada por uma empresa especializada em oferecer diretores que representam a offshore apenas no papel. Magro é o único acionista da empresa. Outras três offshores ligadas ao empresário são mais antigas. A Magro Investimentos S.A. foi criada em 2007 também nas Ilhas Virgens Britânicas, tendo Ricardo Magro Andrade como único diretor e acionista. O agente original, na época, era a filial de Mônaco do HSBC. Foi essa mesma filial do banco que pediu a incorporação da Ronell Capital, que também foi criada em 2007, mas no Panamá. Ela foi criada usando um mecanismo ainda mais secreto para ocultar o verdadeiro dono: suas ações não eram nominais, mas sim pertencentes “ao portador”, ou seja, a qualquer pessoa que estivesse em posse dos papéis em um determinado momento. O nome de Magro, porém, aparece em um documento em que lhe é concedido poder para atuar em nome da empresa.   Também foi a filial de Mônaco do HSBC que pediu a criação da Engel Investimentos SA, criada em 2007, também nas Ilhas Virgens Britânicas. A diretora e acionista da empresa é Alessandra Engel Magro, mulher de Ricardo e sua parceira de advocacia – o nome de ambos aparece juntos como advogados em ações judiciais no Rio. Já a última offshore, chamada Hagora Investment Fund, é sediada nas Ilhas Cayman e não é operada via Mossack Fonseca. Ela estava sendo usada para se tornar proprietária de algumas das offshores do casal, num processo que a agente da Intercorp descreveu como “reorganização da estrutura” de offshores de Magro. 

A reportagem questionou o empresário sobre a legalidade das offshores – ter empresas em paraísos fiscais não é crime no Brasil, desde que elas sejam declaradas às autoridades. Segundo Magro, essa declaração sempre foi feita durante o período em que ele foi residente no País. O empresário afirmou que se tornou residente da União Europeia em 2012, já que também é cidadão português, apesar de manter um escritório de advocacia funcionando em São Paulo. “Todas as empresas que detinha à época que residia no Brasil sempre foram devidamente declaradas nos termos da legislação vigente”, afirmou.