Voluntário encontra corpo de amigo sob escombros em Friburgo

Fisioterapeuta relata à BBC Brasil 'cenas de horror' na cidade que mais registra mortos nas enchentes da serra fluminense.

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Por Fernanda Nidecker
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Prédio desaba após deslizamentos de terra em Nova Friburgo (Foto: Reuters/ Governo do Rio) "Eu nunca pensei que ia viver para ver isso", disse emocionado o fisioterapeuta Luiz Felipe Moraes, de 36 anos, ao descrever as cenas de horror que presenciou ao tentar, em vão, resgatar um amigo soterrado pelas enchentes que devastaram Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio. "Eram 7h30 (da quinta-feira) quando a notícia chegou. Minha mulher e meu filho de três anos estavam bem e saí para tentar achar o Julio", contou. A casa do amigo Julio Lo Bianco, de 60 anos, que ficava no centro da cidade, tinha sido derrubada na madrugada de quarta-feira. O imóvel ficava a dez minutos a pé da sua casa. Luiz Felipe diz que mal reconheceu a entrada da rua do amigo quando chegou na esquina. "A encosta caiu e as casas foram tombando de lado, em efeito dominó. Só tinha um prédio em pé, o resto tinha vindo abaixo", relembra, emocionado. Ele conta que foi difícil ter acesso ao escombros, já interditados pelo único bombeiro que estava no local, por volta das 8h. "Depois de muito esforço eu consegui me infiltrar com a ajuda de um conhecido que já estava lá dentro. Era tanto entulho que não dava para saber onde ficava a casa dele." União Segundo Luiz Felipe, ao longo do dia mais voluntários e bombeiros foram se unindo até formar um grupo de cerca de 300 pessoas, que, com a ajuda de pás e outras ferramentas doadas por moradores, foram retirando pedras e entulhos. "As horas iam passando e só achávamos árvores, pedaços de concreto, pedra. Era muito frustrante. Quando já estávamos desistindo, um dos voluntários, como que por milagre, decidiu cavar em um lugar específico, não sei por quê." "Ele foi tirando pedrinha por pedrinha, até que ouvimos, 'Achei!'" Nesse momento, todos acharam que Julio tinha sido encontrado vivo e houve uma onda de aplausos. A família, que esperava aflita na entrada da rua, se encheu de esperanças. Em vão. Julio já não tinha sinais de vida e seu corpo, encontrado embaixo de uma laje, não pode ser retirado antes das 16h, quando chegou uma retroescavadeira dos bombeiros. "Quando a máquina começou a remover os entulhos, vimos que a tragédia tinha sido muito maior. Vi o corpo de um menino sendo erguido na minha frente. Devia ter uns 12 anos, tinha morrido sentado." Cenas de horror Ao sair daquela cena de filme de terror, Luiz Felipe presenciou outras ao transitar pela cidade. Àquela hora, no fim da tarde, os corpos já estavam sendo resgatados aos montes. "Caminhões passavam com os corpos amontoados nas carrocerias. Só dava para ver os pés para o lado de fora e um plástico preto sujo de lama cobrindo tudo", descreve. Preocupado com a mulher e o filho, Luiz Felipe voltou para casa. A família arrumou as malas e foi para o Rio, onde mora sua mãe. "Friburgo está acabada. Não tem comida, água e a gasolina está racionada." Ele diz que está reunindo doações entre amigos e pretende levar mantimentos para a cidade nos próximos dias. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.