PUBLICIDADE

Volta de Alckmin esfria briga de tucanos pelo Bandeirantes

Ex-governador e Aloysio terão de agir com cautela para não prejudicar Serra

Por Silvia Amorim
Atualização:

A decisão do governador José Serra (PSDB) de trazer para o seu secretariado o antecessor Geraldo Alckmin (PSDB) deve esfriar a disputa interna que já começava a se configurar no ninho tucano para a escolha do sucessor ao Palácio dos Bandeirantes em 2010. Um dia depois do anúncio da nomeação do ex-governador para a Secretaria de Desenvolvimento, a avaliação de quem defende Alckmin ou o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, para ser o candidato a governador na próxima eleição é de que é natural a decretação de um armistício. "Acho que nesse momento haverá um enorme abrandamento do conflito", afirmou o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman. O tucano foi uma das lideranças do grupo do PSDB - ligado a Serra - que se opôs à candidatura de Alckmin no ano passado à prefeitura paulistana e apoiou a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Hoje esse grupo se movimenta para fortalecer Aloysio. "Ontem havia dois campos independentes. Hoje é possível pensar no futuro em um único campo", emendou Feldman. Para o presidente estadual do PSDB, Mendes Thame, que vai comandar oficialmente a escolha do candidato ao governo estadual, a confirmação de que será Serra o condutor desse processo "aumenta a chance de haver uma grande conciliação". Thame considerou, entretanto, "ilações" as especulações em torno de disputas internas para o posto. Mesmo faltando quase dois anos para a eleição, dirigentes do PSDB em São Paulo demonstravam desde o fim do ano passado preocupação com a ameaça de uma reprise, em 2010, do racha ocorrido na sucessão municipal, quando ficou, de um lado, o grupo ligado a Serra fazendo campanha para Kassab e, de outro, os alckmistas apoiando a candidatura do ex-governador. Um deles confidenciou que seria "praticamente inevitável" esse embate com Aloysio percorrendo o Estado em inaugurações e compromissos oficiais do governo e Alckmin em uma "agenda paralela". A entrada de Alckmin no governo não significa, entretanto, o fim da disputa entre os dois nomes. Ambos sabem que precisam se viabilizar e vão trabalhar para isso. A mudança esperada é na forma como isso será feito, porque é unânime a intenção de que um eventual confronto não provoque uma crise no governo Serra, com isso prejudicando o projeto maior, que é a eleição do governador à Presidência da República. "Os dois passam a ser candidatos do governo e, aí, é natural. Não é que você terá um nome do Serra e outro de fora", avaliou o deputado Edson Aparecido (SP), um dos aliados de Alckmin. O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, José Aníbal (SP), também acredita numa união do partido em São Paulo. "Eu vejo muito positivamente. O governador e o ex-governador encontraram uma convergência muito importante para São Paulo e para o Brasil." Disputas à parte, Alckmin e Aloysio sabem que a palavra final nessa escolha será do governador. O maior desafio de Aloysio hoje é tornar-se conhecido no Estado. Já o de Alckmin é fazer um trabalho bem feito e convencer Serra de que é a melhor opção. Até ontem não estava definido quando Alckmin assumirá a Secretaria de Desenvolvimento. A expectativa é de que seja na próxima segunda-feira. Ontem ele foi a seu escritório político e passou o dia em reuniões. TRAJETÓRIA DE SERRA E ALCKMIN 1983 José Serra é secretário do Planejamento do governo Franco Montoro e Geraldo Alckmin é deputado estadual 1986 Ambos são eleitos deputados federais pelo PMDB no período da Constituinte 1990 É no trabalho na Câmara dos Deputados que Serra e Alckmin se aproximam. Eles se reelegem já pelo PSDB e Serra, como líder da bancada, indica Alckmin para vice-líder e dá a ele relatorias em comissões de grande visibilidade 1991 Apoiado por Serra e Fernando Henrique Cardoso, Alckmin é eleito presidente estadual do PSDB em São Paulo, numa disputa com a deputada Zulaiê Cobra, na época candidata de Mário Covas 1993 Alckmin é reeleito presidente do partido 1994 Ele é escolhido vice de Mário Covas para a eleição ao governo estadual. Na época, muito próximo de Serra, Alckmin enfrentou saias-justas, como quando não assinou uma lista que circulava dentro do PSDB de apoio à candidatura de Covas. Havia rumores de que Serra queria a vaga e ele não poderia se indispor com o seu principal aliado 1998 Na reeleição de Covas, Alckmin põe o cargo de vice à disposição, mas é mantido por decisão pessoal do governador. É um sinal de que sua afinidade com Covas já era maior do que com Serra 2002 Ambos saem candidatos: Alckmin para governador e Serra à Presidência. Fazem campanha juntos, mas Serra é derrotado e seus aliados acusam o grupo de Alckmin de não ter se empenhado o suficiente na eleição 2003 Serra é eleito presidente nacional do PSDB 2004 Serra concorre à Prefeitura de São Paulo e é eleito. Alckmin apoia 2005 Crise no governo Lula por causa do escândalo do mensalão desperta cobiça dos serristas, que veem oportunidade de uma vitória na eleição presidencial. Alckmin, de pronto, revida, dizendo que Serra cumprirá a promessa de ir até o fim do mandato de prefeito 2006 Há uma ruptura na relação entre Serra e Alckmin, estremecida com a disputa pela vaga de candidato à Presidência. Serra é atropelado pela decisão de Alckmin de deixar o governo e desiste de entrar na briga. Alckmin perde a eleição 2008 É o ano da vingança. Tucanos aliados a Serra apoiam a candidatura do prefeito Gilberto Kassab (DEM) à prefeitura paulistana. Alckmin sai candidato, mas, com o partido rachado, nem chega ao 2º turno 2009 Serra nomeia Alckmin para ser o titular da Secretaria de Desenvolvimento. Serra se fortalece para ser o candidato do PSDB à Presidência em 2010 e Alckmin vê suas chances de ser o candidato à sucessão paulista aumentarem

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.