Viver com medo, quem há de?

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Por Dora Kramer
Atualização:

Aqui e ali se aponta como erro tático do juiz Sérgio Moro a decisão de autorizar a condução coercitiva de Luiz Inácio da Silva para prestar depoimento aos procuradores da Operação Lava Jato. Teria, com isso, dado ao ex-presidente o discurso de vítima do arbítrio e o pretexto de que ele precisava para mobilizar a militância petista em sua defesa. É uma das conclusões possíveis na análise das consequências políticas daquela marcante sexta-feira. Juízo muito parecido com o que fez o PSDB lá pelos idos de 2005/2006, quando decidiu que era melhor não radicalizar para cima do então presidente quando o marqueteiro Duda Mendonça confessou ter recebido "por fora" o pagamento de seus serviços à campanha eleitoral de 2002.  Na avaliação dos oposicionistas, era melhor deixar Lula "sangrar" sob os efeitos do escândalo que fornecer a ele a saída da intimidação por meio de um chamamento "às ruas". Note-se que à época o presidente sofrera um baque, mas ainda tinha um capital político e social bastante substantivo. Devido à recuperação e à reeleição, os tucanos pagaram o preço daquilo que se considerou excessiva e equivocada complacência.  Talvez estivessem errados mesmo, mas hoje se vê que o raciocínio fazia sentido. Optaram pelo passo atrás na expectativa de dar dois à frente. Movimento comum na política. Não se sabe o que teria dado se tivessem pagado para ver na ocasião. Foi uma escolha.  Já o juiz Sérgio Moro não pode nem deve se pautar pelos mesmos critérios dos partidos. Nesses dois anos de Operação Lava Jato já havia, antes de Lula, autorizado a expedição de 116 mandados de condução coercitiva e a ninguém - a não ser aos advogados de defesa - ocorreu contestá-lo. Quando os fatos chegaram a Lula, o juiz nada mais fez do que aplicar a regra que vinha adotando como geral.  Queriam o quê? Decisão diferente equivaleria a dar tratamento, senão privilegiado, ao menos diferenciado ao ex-presidente. Estaria igualmente exposto a críticas. Preferiu seguir o padrão. Pode não ter sido a intenção do juiz, mas com isso evitou que o PT criasse um carnaval maior ainda com a convocação do depoimento para data posterior. Lula posaria de vítima da mesma forma. Só que durante mais tempo. Liquidada essa parte da questão, veremos como a vida há de seguir e quem é mais forte: a intimidação petista ou a serena, porém firme, convicção da maioria de que o crime não pode compensar. A conferir domingo próximo. 

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