Viúva de Jango critica Comissão Externa da Câmara

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Por Agencia Estado
Atualização:

A viúva do ex-presidente João Goulart, Maria Tereza, e sua filha, Denise, acusaram a Comissão Externa da Câmara, que apura as circunstâncias da morte de Jango, de não ser ?séria? e querer fazer ?apenas marketing?. O relatório da comissão será divulgado na próxima terça-feira e, segundo seu relator, deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), há provas, embora apenas testemunhais, de que Jango teria sido mais uma vítima da Operação Condor - movimento conjunto organizado, nos anos 70, por integrantes dos regimes militares de países do Cone Sul, incluindo o Brasil, que tinha o objetivo de eliminar líderes políticos de oposição. ?Nós sequer tivemos acesso a esse relatório?, protestou Maria Tereza. ?Eles (os deputados) só ouviram pessoas que jamais poderiam saber de nada sobre as circunstâncias da morte de meu marido, porque eram crianças na época.? Segundo a viúva de João Goulart - Jango morreu em 6 de dezembro de 1976, oficialmente vítima de um infarte -, a comissão colheu depoimento de filhos de caseiros da fazenda de Jango e de um menor de rua uruguaio, ajudado pelo ex-presidente, que ?não poderiam ter discernimento do que acontecia porque eram meninos.? Maria Tereza ficou indignada com a repercussão que alguns deputados da comissão deram, durante as investigações, à suposta participação dela na morte do marido. Esta versão é sustentada pelo uruguaio Enrique Foch Diaz Vasquez, que foi amigo de Jango. Segundo depoimento à comissão do filho do ex-presidente, João Vicente Goulart, Vasquez era um ?agente duplo?, porque dava informações ?muito precisas sobre movimentações de governos latino-americanos?. A versão de Vasquez, porém, foi desconsiderada pelos deputados e não será incluída no relatório da comissão. Assim como a mãe, Denise Goulart também questiona a seriedade da comissão. ?Eu ainda tenho dúvidas sobre a morte do meu pai, mas essa CPI não esclareceu nada nem para minha família, nem para a sociedade?, disse a filha de Jango, logo após cerimônia de doação, nesta sexta-feira de manhã, de parte dos documentos e fotos pessoais do ex-presidente ao Arquivo Público Nacional. O relator da comissão, Miro Teixeira, lamentou as declarações da viúva e da filha de João Goulart. ?São declarações irresponsáveis. Acredito que elas estão com medo (do resultado do relatório), e por isso já preparam uma defesa prévia?, disse. O deputado reconheceu que surgiram fatos estranhos ao caso que acabaram atrapalhando às investigações, mas ressaltou que seu relatório irá provar que o ex-presidente foi, de fato, vítima da Operação Condor. ?Entre outras coisas, temos o depoimento do Miguel Arraes (presidente de honra do PSB), que, em seu exílio em Argel, recebeu informações de serviços secretos comunistas de que havia articulações de militares brasileiros para eliminar o Jango, o Brizola e o deputado federal Neiva Moreira (PDT-MA)?, contou. Em seu relatório, Teixeira sustenta duas hipóteses para a morte de João Goulart : por envenenamento ou por uma troca de remédios que eram usados pelo ex-presidente. ?Mesmo com a exumação do corpo de Jango, seria muito difícil ter provas materiais para sustentar essas hipóteses por causa dos anos que nos separam da morte dele?, disse. Mesmo assim, a comissão chegou a aprovar o pedido de exumação do corpo, negado pela família.

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