Vitória de Paes dá novo status a Cabral no PMDB

Padrinho político do prefeito eleito do Rio, o governador reforçou sua posição como possível candidato a vice-presidente nas eleições de 2010

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Por Luciana Nunes Leal
Atualização:

Passada a comemoração pelo bom desempenho nas eleições municipais, o PMDB se esforça para firmar a imagem de partido de expressão nacional e usa o Rio de Janeiro - Estado e capital - como maior trunfo para ganhar peso nas negociações para a sucessão presidencial de 2010. Apesar de a disputa ainda estar distante, a idéia de lançar o governador Sérgio Cabral candidato a vice-presidente ganha força no partido. O prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes, ex-tucano recém-chegado ao partido, é outra aposta. Embora antigos peemedebistas tenham dúvidas sobre como será a atuação de Paes - que está ainda muito à sombra de Cabral - no partido, a maioria acredita que ele poderá formar uma liderança interna, inclusive com novas filiações de colaboradores que não têm mandato. Paes foi deputado do PSDB e esteve na linha de frente de ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a CPI dos Correios. No PMDB acredita-se, no entanto, que ele esteja disposto a persistir no discurso de aliança com os governos estadual e federal que o ajudou na vitória. "Estamos com a vitória (nas eleições municipais) nas mãos e ainda não sabemos o que fazer com isso. Quando vi que íamos perder em Belo Horizonte, torci ainda mais por Eduardo Paes. O partido precisava dessa vitória no Rio", diz o líder da bancada do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O ex-presidente do Senado Renan Calheiros (AL) - que começa a retomar uma posição de liderança no partido depois de escapar de um processo de cassação de mandato - lembra que, pela primeira vez em mais de 20 anos, um governador do Rio conseguiu eleger o prefeito da capital. "É a primeira vitória de um governador, o que consolida a parceria do Estado com a capital e com o presidente Lula", diz Renan. O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), diz que "a prudência recomenda discutir 2010 somente no segundo semestre do ano que vem", mas reconhece a tendência de manutenção da "aliança natural com o governo". "Eduardo Paes vai construir um caminho duradouro dentro do PMDB. A vitória no Rio foi um dos elementos de sucesso do PMDB. O Sérgio Cabral tem vários caminhos: buscar a reeleição, ser candidato a vice-presidente ou até ser um candidato a presidente se o PMDB pensar nessa alternativa", diz o presidente peemedebista. Além da parceria entre município, Estado e União, a eleição de Eduardo Paes produziu a primeira aproximação do governador Sérgio Cabral com a bancada de deputados do PMDB. Até agora, a relação era distante e até hostil, no caso dos parlamentares fluminenses. Para se ter uma idéia do distanciamento, em quase dois anos de governo, Cabral jamais tinha se reunido com os deputados. O primeiro encontro formal aconteceu na quarta-feira, quando governador e prefeito eleito fizeram um périplo por Brasília, com visitas ao presidente Lula, aos presidentes do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN); da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP); do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Ayres Britto, e ao PMDB. Na avaliação de alguns parlamentares do Rio, Cabral apostou na parceria com o presidente Lula e dispensou uma boa relação com o Legislativo federal, embora dependa dos deputados a apresentação de emendas ao Orçamento em benefício do Rio. Como a vitória relevante de Cabral no Estado foi a da capital, com derrotas significativas em Nova Iguaçu e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, deputados não vinculados à capital ainda resistem ao governador. Temer acredita, porém, que o clima tende a melhorar. "Será uma aproximação natural", aposta o presidente do PMDB. Os parlamentares crêem que Paes, diferentemente de Cabral, vai optar pelo diálogo. "O Eduardo Paes conhece muito bem o Legislativo. Sabe como é relevante a aproximação com os deputados", diz o coordenador da bancada fluminense, Hugo Leal (PSC), aliado do prefeito eleito no segundo turno. Um dos fatores que afastaram Cabral da bancada federal foi a briga interna no PMDB com o ex-governador Anthony Garotinho, que liderou boa parte dos deputados eleitos em 2006. Entre os correligionários de Paes, há um incômodo com a imagem de que o prefeito eleito está muito atrelado ao governador, o que foi confirmado durante a passagem de ambos por Brasília. Um bom relacionamento com o Legislativo federal e a aprovação de emendas para a capital são vistos como um caminho a ser seguido pelo prefeito que o diferenciaria de Cabral. Por causa do distanciamento do governador com o Congresso, os deputados pouco se empenharam na campanha de Paes no primeiro turno e se aproximaram um pouco mais apenas na segunda etapa da disputa. METAS A preocupação da cúpula do PMDB de ir além das meras comemorações com as eleições municipais - o PMDB foi o partido que elegeu mais prefeitos e mais vereadores, com ampla vantagem sobre os segundos colocados - está resumida em uma análise dos resultados feita pela assessoria técnica do senador Renan Calheiros (AL). O ex-presidente do Senado mandou uma cópia da análise do primeiro turno para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No fim da semana passada, recebeu um documento atualizado com os resultados do segundo turno. "A espiral ascendente não deveria ter desdobramentos meramente burocráticos ou comemorativos com discursos e entrevistas. É preciso sinalizar para frente", recomenda o documento. A análise destaca a "reinserção do PMDB em grandes capitais, como Belo Horizonte (apesar de ter perdido a eleição no segundo turno) e o Rio de Janeiro (em que Paes venceu com 50,83% dos votos)" e aposta que, apesar da persistência de uma ala oposicionista, conseguiu enterrar "a dicotomia mortal de outrora entre governistas e oposicionistas", que era "um veneno para o partido". Renan e Cabral estão em campos opostos na disputa pela presidência do Senado. O governador e ex-senador defende o apoio do PMDB à candidatura do petista Tião Viana (AC). O alagoano lidera o crescente movimento de peemedebistas que querem uma candidatura própria. Até mesmo o líder da ala oposicionista do PMDB, o ex-governador paulista Orestes Quércia - que levou o partido a uma aliança vitoriosa com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo e defende o apoio ao governador José Serra (PSDB) na disputa presidencial de 2010 -, reconhece o fortalecimento de Cabral com a vitória de Paes. "Ele tem de ter pretensão de ser presidente, não vice", afirma. "O partido tem uma vinculação cerrada com o governo Lula, da qual discordo. Tenho disposição de apoiar o governador Serra. Hoje, o pessoal está ligado ao presidente Lula porque é mais fácil. Mas tenho conversado com companheiros que gostam muito do Serra. Na hora certa, vamos começar o diálogo", diz Quércia.

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