Visita de Lula a Cuba provoca bate-boca na Câmara

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Por Eugênia Lopes
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A atitude do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em visita a Cuba evitou condenar as violações dos direitos humanos no país, provocou polêmica hoje no plenário da Câmara. O DEM entrou em obstrução, impedindo a votação de sete projetos de decreto legislativo de acordos internacionais. O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), decidiu suspender as votações depois do bate-boca entre o vice-líder do DEM, deputado José Carlos Aleluia (BA), que chamou Fidel Castro (ex-presidente de Cuba) e seu irmão Raul Castro (presidente de Cuba) de assassinos, e deputados do PT e do PC do B, que saíram em defesa de Lula. Temer fez questão de ressaltar que a posição oficial da Câmara é de repúdio a "toda e qualquer atitude antidemocrática e agressiva a qualquer país do mundo". "Quem poderia imaginar um presidente operário, o nosso presidente metalúrgico, ir a Cuba para comemorar a morte de um dissidente do regime de Fidel. Isso é inaceitável. Tirar foto dando risada, ao lado de assassinos, ao lado de bandidos, em Cuba", disse Aleluia.Sua fala foi rapidamente contestada pela deputada Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), que é presidente do grupo parlamentar Brasil/Cuba. A deputada disse ter "muitas divergências" com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. "Os Estados Unidos são um país que fez o que fez com o povo, com seres humanos, na prisão de Abu Ghraib; que mantém até hoje Guantánamo funcionando, que mantém cinco presos políticos cubanos sem sequer serem julgados em território americano", afirmou Grazziotin. Para o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), "não cabe ao presidente da República chegar a Cuba se imiscuindo na política interna do País". Ele argumentou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se encontrou diversas vezes com Fidel Castro e nunca se referiu às denúncias de violação de direitos humanos em Cuba. O petista lembrou ainda que o ex-governador da Bahia Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, recebeu Fidel "com pompa e circunstância" no Estado e, na época, Aleluia era da base aliada ao governador. O deputado Nilson Mourão (PT-AC) também usou de ironia para se referir à postura de Aleluia: "Lamentavelmente, não vi o deputado Aleluia comovido quando o governo dos Estados Unidos matou 70 iraquianos e foi para a televisão simplesmente pedir desculpas". O líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen (SC), divulgou nota afirmando que o presidente Lula "só envergonha" o povo brasileiro. "Em Cuba, (Lula) se curva para um dos mais facínoras ditadores do planeta ainda vivo", afirmou Bornhausen. "O governo Lula, com seu apoio a ditadores e ditaduras, está destruindo um capital arduamente conquistado pela democracia brasileira de respeito aos direitos humanos", disse o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

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