Os pilotos do Cessna prefixo PR-AFA decidiram pousar no limite da visibilidade operacional determinado pelas normas da Aeronáutica para a operação da Base Aérea de Santos, em Guarujá, no litoral paulista. Documentos obtidos pelo Estado mostram a evolução meteorológica na manhã de ontem na região da base – a visibilidade chegou a ficar em 800 pés (cerca de 260 metros), quando a regra admite pousos naquela pista com um mínimo de 700 pés (233 metros) de visibilidade.
A carta de aproximação por instrumentos para a pista 35 da base aérea demonstra ainda que, em caso de arremetida, o piloto devia fazer uma curva para a esquerda – o que ocorreu com o avião que transportava o candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos.
Os boletins meteorológicos de Santos são registrados na Redemet, o site meteorológico do Comando da Aeronáutica. Eles registram que a visibilidade ontem na região da base aérea foi reduzida de forma constante das 6 horas ao meio-dia. O vento vinha de nordeste e norte, com baixa intensidade. Havia restrição de visibilidade e chuva fraca. As nuvens estavam perto de 2 mil pés (660 metros)
A partir das 9 horas até o meio-dia, a visibilidade piorou. Às 10 horas, quando a aeronave caiu, o teto estava perto de 800 pés. A baixa visibilidade levou os pilotos a optar por arremeter o avião, conforme avisado, via rádio, ao controle da pista.
Segundo informações obtidas pelo Estado, o piloto do avião entrou em contato com a estação rádio da base aérea informando que ia fazer procedimento de pouso. Em seguida, o piloto se comunicou novamente com a base e avisou que não tinha encontrado visualmente a pista de pouso e arremeteu.
A gravação mostra um dos pilotos do Cessna (ainda não se sabe qual deles) com voz calma. Ele usa linguagem técnica de aviação para informar que iria realizar o “bloqueio de Santos e o rebloqueio”, o que indica o plano de arremeter e, em seguida, tentar pousar novamente na pista 35. De acordo com a carta com as regras da pista, o procedimento de pouso deve ser iniciado com 4 mil pés, via instrumentos. A partir dos 700 pés, caso não haja visualização direta, a ordem é arremeter.
“Foi o que os pilotos fizeram, e na direção certa, pela esquerda, conforme a determinação”, disse o comandante Humberto Branco, vice-presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Appa).
A manobra foi feita, segundo os boletins meteorológicos, com clima desfavorável. Além da névoa úmida, que provocou o teto baixo para pouso, ventava na região. “O tempo não estava bom, mas ainda era considerado praticável para a execução do procedimento”, completa Branco. Após a arremetida, não houve mais comunicação e ocorreu o choque.
Caixas-pretas. O gravador de voz do Cessna 560XL, prefixo PR-AFA foi localizada por volta das 12 horas e está em mãos da equipe do Centro Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, Ceripa, de São Paulo. O gravador de voz traz os 30 últimos minutos de conversa na cabine, assim como as conversas com o funcionário de terra da base aérea.
Não há prazo para conclusão dos trabalhos dos peritos. Eles querem saber se o piloto seguiu as instruções da torre de controle ao arremeter e se os equipamentos responderam aos comandos do piloto. Também precisará ficar claro se o avião estava em chamas antes de cair, como afirmam testemunhas.
Os corpos das vítimas seguiram ontem para o Instituto Médico-Legal de São Paulo. Segundo o delegado Aldo Galiano Junior, diretor da Polícia Civil em Santos, 90% dos restos mortais das vítimas já foram levados para São Paulo. De acordo com ele, em até três dias os corpos serão liberados. As Polícias Civil e Federal abriram inquéritos. / COLABORARAM BRUNO RIBEIRO e WLADIMIR D'ANDRADE