Violência marca negociação entre governo e professores grevistas

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Por Agencia Estado
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O governo e o comando de greve dos professores universitários estão dando exemplos de violência na negociação para pôr fim ao movimento, que paralisa as instituições federais há quase três meses. A avaliação é do presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), reitor Carlos Roberto Antunes. Desde o início da greve, a entidade participa como mediadora das reuniões entre representantes do Ministério da Educação (MEC) e líderes do sindicato nacional dos docentes (Andes). E até agora foi poupada de ataques das partes envolvidas no conflito. "É uma greve que tem a particularidade da violência", afirma Antunes. Ele cita como exemplos de violência a invasão de câmpus e gabinetes de autoridades em Brasília, o radicalismo das negociações e a decisão do MEC de reter o salário dos professores - boa parte em licença médica ou treinamento. O reitor diz que é preciso repensar o ensino superior. "O período é mais do que um período de greve, é de crise da universidade", afirma Carlos Roberto Antunes. "A tônica da violência leva a gente a pensar que o custo social é bastante alto." Pelo menos em três ocasiões o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, referiu-se ao conceito de violência para criticar a atuação do comando de greve. Ao comentar as atitudes dos sindicalistas na mesa de negociações, Paulo Renato disse que a paralisação atual é "muito mais violenta" do que nos tempos em que presidia a seção sindical do Andes na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde atuou como professor. Ele foi um dos fundadores da entidade em 1980. O ministro também criticou grupos que impediram por meio da "força" e de forma "arbitrária" a realização do vestibular na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), após não conseguirem cancelar o processo na Justiça. Paulo Renato também criticou os insultos de manifestantes ligados ao comando de greve a ele e a Ruth Cardoso, presidente do Programa Comunidade Solidária, durante um evento no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. A palavra violência também faz parte do vocabulário dos sindicalistas. O presidente do Andes, Roberto Leher, afirma que a decisão do MEC de não desbloquear o salário de outubro dos professores na última sexta-feira foi um ato de "violência institucional". No dia anterior, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) havia determinado o pagamento em 24 horas. "Nem durante o regime militar ocorria uma cena como essa", afirmou. "O MEC pode recorrer, mas isso não lhe dá o direito de continuar retendo os recursos." Leher nega que a entidade tenha participado dos tumultos e atos de agressão. Ele diz que o comando de greve em nenhum momento aprovou ações internas nas universidades ou atos de intolerância e critica a posição do governo em relação à paralisação. "Temos clareza que o enfrentamento é a base da política do governo", acusou.

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