Gastos crescentes com segurança pública e particular, perdas materiais e multinacionais temerosas em investir no País. A escalada da violência urbana está contribuindo para aumentar o chamado custo Brasil. Estimativas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) indicam que, nos últimos dois anos, a violência urbana causou prejuízo de cerca de R$ 15 bilhões no Brasil. O assunto preocupa tanto que a Fiesp está prestes a concluir um programa de segurança, o ProSEG, para auxiliar a polícia na gerência de recursos e informações e no treinamento de pessoal. Segundo o coordenador do ProSEG, Ricardo Lerner, o prejuízo calculado pela entidade engloba gastos com segurança e perdas causadas por modalidades criminosas como o roubo de cargas. Outro levantamento, realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), calcula que, em 1997, o Brasil tenha perdido 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em razão da falta de segurança. O cálculo inclui despesas com serviços decorrentes da violência - hospitais, por exemplo -, e gastos públicos e privados em polícia, sistemas de segurança e judicial. "Certamente esse prejuízo hoje é maior", acredita o sociólogo Túlio Kahn, coordenador de pesquisas do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento de Delinqüentes (Ilanud). O especialista explica que há dois tipos de prejuízo a serem levados em consideração. O primeiro é o dos gastos diretos com a violência. O segundo diz respeito a quanto o País deixa de receber e produzir. "São empresas que deixam de se instalar no País, turistas que não viajam para cá e pessoas que não saem à noite com medo de assaltos." Kahn menciona os 11 mil homicídios ocorridos no Estado em 1997, a maioria de pessoas de até 23 anos. Ao calcular o número de anos de trabalho que elas teriam pela frente em sua vida produtiva recebendo um salário mínimo, em média, o sociólogo apurou que o Brasil perdeu R$ 554,4 milhões. Diagnóstico - O projeto da Fiesp, iniciado há 30 meses, já consumiu R$ 200 mil, investidos principalmente na contratação de consultores. Lerner adiantou que outros R$ 200 mil ainda serão gastos. "O primeiro passo foi fazer um diagnóstico. Descobrimos que o problema básico é de gestão, principalmente de recursos humanos, de classificação de informações e de inteligência", explicou. O ProSEG foi dividido em seis tópicos: capacidade de planejamento estratégico; capacidade de utilizar eficazmente informações; complementariedade de atuação preventiva e investigativa; referenciais de qualidade na atuação policial; capacidade de operação das unidades de base; e educação corporativa. "Cada um desses temas será discutido por um grupo de especialistas, que se aprofundarão nessas questões", disse Lerner. "Estamos esperando uma reunião com o secretário (Saulo Abreu) para colocá-lo a par do ProSEG. O projeto sai quando a secretaria nomear os grupos." A diretora da Coordenadoria de Análise e Planejamento (CAP) da Secretaria da Segurança, Ana Sofia Schmidt, disse ontem que delegados e PMs começaram a se reunir com especialistas ligados à Fiesp em maio de 2000. "O atual secretário precisa ser informado de tudo para ver se concorda. Estamos marcando uma reunião para depois do carnaval".