Violência cresce entre jovens do Polígono da Maconha

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Por Agencia Estado
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Um levantamento recente feito no Polígono da Maconha por organizações não-governamentais (ONGs) e pelo governo mostrou um dado preocupante: os jovens com idades entre 15 e 24 anos estão sendo as principais vítimas e protagonistas da violência na região. A cada 27 homicídios em cidades do Polígono, 20 são atribuídas a jovens nessa faixa etária, segundo a pesquisa. Considerada de extrema gravidade, a situação chegou a Brasília. Há duas semanas, representantes da Câmara dos Deputados, da Polícia Federal, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e das prefeituras se reuniram para discutir soluções para o problema, causado ironicamente pela repressão policial ao plantio de maconha. Pelos dados da PF, somente neste ano foram erradicados 3,5 milhões de pés da erva, tirando do mercado 1,4 mil toneladas da droga. Na avaliação, a juventude nordestina está modificando a cada dia seu perfil, se assemelhando aos moradores dos morros e favelas cariocas. "Eles se perguntam: recebendo R$ 3 mil por mês, para que vou estudar?", disse um religioso atuante no Polígono ao Projeto Cultura e Desenvolvimento de Koinonia, ONG responsável pela pesquisa. Conforme levantamento, a juventude continua tendo ligação estreita com o tráfico, hoje chamado também de narconegócio ou narcobussiness, por causa da forma quase empresarial adotada pelos financiadores do plantio. Início disso foi a Operação Mandacaru, desenvolvida pela PF e Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) no ano passado e início deste ano, que resultou em uma maioria jovem entre os presos. O relatório revela que muitos ainda tentam evitar a vida de crime, mas os atrativos econômicos do narconegócio falam mais alto. Hoje, segundo a PF, os traficantes pagam até R$ 1 mil para cada 10 quilos de droga transportados. As diárias na agricultura não chegam a R$ 10,00, enquanto os traficantes pagam até R$ 50,00 para cada dia de trabalho na lavoura de maconha. Para os jovens sertanejos, a quantia garante o status nas grandes cidades da região, como Petrolina, hoje um centro de referência por causa da agricultura irrigada, responsável pelo progresso do município - a população cresceu 257% nos últimos 30 anos. O mesmo ocorre em Itaparica, considerada uma cidade rural pelo número de habitantes do campo. Na publicação Tempo e Presença, feita pela Koinonia neste mês, relatos mostram que o dinheiro do narconegócio transformou a vida dos jovens do Polígono da Maconha. "A área do interior se encheu de motocicletas. Desapareceram o cavalo, o jumento e a bicicleta", diz um dos entrevistados na pesquisa feita pela organização não-governamental, que mantém os nomes em sigilo por segurança. O narconegócio, segundo a pesquisa, nem sempre atua de forma repressora contra o jovem sertanejo. "Em vez de agir principalmente por meio de coação, o negócio cria redes de amizades ou se aproveita delas", diz um dos trechos do relatório. Os traficantes tratam os seus futuros "empregados" como companheiros de produção de um artigo muito mais atraente e lucrativo. Mas, mesmo assim, quem se recusa a servir o tráfico tem seu destino traçado: a morte.

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