Violação de painel abala base governista

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), convocou ontem senadores e diretores dos principais departamentos da Casa para anunciar oficialmente o resultado do relatório, elaborado por técnicos da Universidade de Campinas (Unicamp), que revelou que houve violação do painel eletrônico de votações, no dia em que o ex-senador Luiz Estevão Oliveira (PMDB-DF) foi cassado. Ele informou, também, que a ex-diretora do Prodasen (centro de processamento de dados do Senado) Regina Borges confessou ter recebido ordem do líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF), para modificar o sistema eletrônico e retirar a lista indicando como cada parlamentar teria votado. A conclusão dos técnicos da Unicamp e o depoimento de Regina Borges se transformaram no principal assunto no Congresso ao lado da possível instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Corrupção. "Se for verdade, será um crime inominável para uma Casa Legislativa do porte do Senado, é uma vergonha", afirmou Barbalho, no plenário. "Lamento profundamente informar o resultado do laudo e o teor do depoimento (prestado à comissão técnica que investiga a violação do painel)", acrescentou. O caso será debatido hoje durante reunião entre o primeiro-secretário do Senado, Carlos Wilson (PSDB-PE), o corregedor-geral, Romeu Tuma (PFL-SP), e o presidente da Comissão de Ética, Ramez Tebet (PMDB-MT). Violação Depois de ler cuidadosamente o relatório da Unicamp e os cinco depoimentos tomados pela comissão, Carlos Wilson confirmou que o laudo indica que não há dúvidas sobre a existência de violação e de que Regina Borges declarou que foi procurada por Arruda para "modificar o sistema", que seguia orientações do então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), inclusive para "retirar a lista com os votos dos senadores", comprovando a quebra de sigilo. Segundo ele, a ex-diretora disse ter sido procurada pelo líder do governo no dia 27, um dia antes da sessão na qual Estevão foi cassado, para alterar o painel, num encontro na casa do parlamentar na Asa Sul de Brasília. O senador contou, ainda, que Regina afirmou ter "retirado a lista" com os nomes dos senadores (possibilitando saber como cada um votou) e enviado o documento direto para o gabinete de José Roberto Arruda. A ex-diretora do Prodasen disse também que mandou o operador do sistema eletrônico, Heitor Ledun, a modificar o painel. Os detalhes do depoimento motivaram defesas e vários apartes no plenário do Senado. Arruda e Antonio Carlos Magalhães negaram as informações e desafiaram a apresentação de provas confirmando as acusações. "Desafio a qualquer cidadão a apresentar provas: nunca vi lista alguma nem o senador Antonio Carlos jamais me fez considerações desta espécie, nego totalmente", disse o líder do governo. "Fiquem à vontade para esclarecer pois jamais ninguém ouviu da minha boca tal solicitação", afirmou ACM. "Jamais encarregaria um senador para falar em meu nome." Reações O relator da Comissão de Ética, Saturnino Braga (PSB-RJ), quer tomar novos depoimentos de Arruda, ACM e todos os funcionários do Senado envolvidos na denúncia de violação. Já a senadora Heloísa Helena (PT-AL) apelou para que as investigações não punam apenas "o lado mais fraco), numa referência aos funcionários acusados. "Ninguém tem mais interesse do que eu nesta ´listinha´, mais ou menos dia ela vai aparecer e mostrar que eu votei pela cassação", disse ela, aos gritos. O senador Arlindo Porto (PTB-MG) pediu a palavra para dizer que se sentia "constrangido". "Lamento estar aqui assistindo a este episódio", desabafou ele. Romeu Tuma disse que vai sugerir no seu relatório que seja aberto processo criminal contra a empresa gaúcha Eliseu Kopp, fornecedora do painel de votações com os respectivos programas. Em relação às acusações contra ACM e Arruda, ele foi cauteloso: "Os depoimentos dos funcionários que fala sobre os dois deve ser analisado detalhadamente".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.