''Versus'' foi impresso até em gráfica de militar

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Por Wilson Tosta
Atualização:

Receita Federal, Previdência Social, Ministério do Trabalho. As pressões contra o jornal Versus explodiram no fim de 1978, após autorização do presidente Ernesto Geisel para a devassa fiscal na publicação. O aval está registrado em documentos, obtidos pelo Estado, da extinta Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça. Ex-editor do Versus, o jornalista Omar L. de Barros Filho conta que, na ocasião, foi chamado a depor na Polícia Federal em São Paulo. Os policiais queriam saber "de onde vinha o dinheiro" que sustentava o mensário. "Logo depois, recebemos uma informação privilegiada avisando que estava sendo preparada uma devassa nas nossas contas", conta Barros Filho. A perseguição atingiu também fornecedores do Versus que, segundo o jornalista, passaram a ser ameaçados com devassas fiscais. Vendedores de papel apertaram as exigências. Gráficas recusaram-se a imprimir a publicação. "Trocamos de oficina umas cinco vezes", relata. "Fomos da capital para o interior, dizendo que Versus era um jornal voltado para o turismo na América Latina." O processo gerou episódios cômicos, como quando o mensário foi impresso na empresa de um militar, que só tardiamente soube que produzira uma publicação de esquerda, com direito a Cuba na capa, em plena ditadura brasileira. Os problemas se agravaram depois que integrantes de uma autodenominada Organização Nacionalista Estudantil, na ausência dos funcionários, invadiram a redação, quebraram tudo, picharam as paredes com ameaças e furtaram todos os livros contábeis. "A coisa ficou difícil, não tínhamos como comprovar nada." Versus surgiu em 1975 e fechou as portas em 1980. De dezembro de 1976 a janeiro de 1977, sob o bipartidarismo Arena-MDB, defendeu a criação de um partido dos trabalhadores, socialista, o que, diz o ex-editor, enfureceu a ditadura.

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