Vereadores de SP criticam corte de salário e batem boca em grupo de WhatsApp

Parlamentares questionam fiscalização de gastos; votação deve ocorrer na tarde desta quinta-feira na Câmara

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Por Bruno Ribeiro e Pedro Venceslau
Atualização:

A proposta da mesa diretora da Câmara Municipal de São Paulo de cortar 30% do salários dos vereadores, 30% das verbas de gabinete e de 20% dos vencimentos dos assessores, em um esforço para angariar recursos para combater o coronavírus, provocou bate-boca no grupo que os parlamentares mantêm no WhatsApp, que terminou com ataques à Mesa Diretora da Casa e acusação de mau uso de recursos.

“Doaria 100% do meu salário, mas se tivesse fiscalização dos gastos”, disse o vereador Adilson Amadeu (DEM), em um dos diversos áudios mandados pelos vereadores contra o projeto, que deve ser votado na tarde desta quinta-feira, 23. “Ninguém está olhando como se gastam essas verbas.” Para ser aprovada, a medida precisa ter aprovação de 28 dos 55 vereadores paulistanos.

O vereador Adilson Amadeu (DEM) Foto: JF Diorio/Estadão

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Segundo Amadeu, que disse que deverá se abster da votação, “a mesa diretora deveria dar satisfação para os 55 vereadores, mas não foi isso o que aconteceu. Foi tomada uma decisão sem consultar os outros vereadores. Estamos há 30 dias tendo reuniões virtuais”. Ele chamou os integrantes da mesa de “inteligentes”, pois querem “aparecer”.

“A Câmara quis se antecipar à Assembleia Legislativa para aparecer. Eu doaria 100% do meu salário, mas o que eles estão fazendo é demagogia”, disse. "Tem de pegar o fundo dos procuradores e dos auditores fiscais, que ganham R$ 50 mil por mês. Ninguém sabe direito o que está sendo comprado”, completou.

“Nosso inimigo invisível é esse dinheiro, que está sendo usado sem fiscalização”, prossegue Amadeu. “O meu desconforto é que nem a Assembleia aprovou isso aí. A Câmara quer fazer para sair na frente e fazer demagogia.” 

A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) deve votar nesta quinta-feira uma proposta de redução salarial de 30% para deputados e servidores comissionados. Somando-se cortes de salário, verba de gabinete a renegociação de contratos e fundo de reserva, a Casa pretende destinar R$ 320 milhões para a Saúde.

Outro vereador que se manifestou contrário à medida é Camilo Cristófaro (PSB). Ele afirmou discordar do desconto salarial ao levantar suspeitas sobre o controle dos gastos. “Cadê o R$ 1 bilhão que a gente aprovou para a Prefeitura?”, questionou. No fim de março, os vereadores votaram a desvinculação de cerca de R$ 1,5 bilhão de 11 fundos municipais para serem usados pela prefeitura no combate ao novo coronavírus.

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O vereador Camilo Cristófaro (PSB) Foto: André Bueno/CMSP/Divulgação

“Os ônibus estão circulando com 50% da frota, mas vão receber o subsídio normalmente, R$ 3,6 bilhões”, disse. “Nos hospitais, estão faltando equipamentos.”

Em São Paulo, segundo o Tribunal de Contas do Município (TCM), todas as compras de emergência feitas pela Prefeitura no enfrentamento à covid-19 estão sendo publicadas em uma página especial na internet, cuja atualização e acompanhamento é diária. A íntegra dos processos administrativos está aberta para consulta pública.

O Estado também recebeu áudio atribuído ao vereador Reis (PT) em que ele também se posiciona contrário ao corte salarial, mas por questionar o fato de a proposta ter sido apresentada pela mesa diretora sem acordo entre os vereadores. A reportagem não conseguiu falar com o vereador.

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