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Verão do racionamento: sem ar-condicionado e com cerveja quente

Por Agencia Estado
Atualização:

Um verão sem ar-condicionado e cerveja pouco gelada. Assim promete ser o "verão do racionamento", que, na opinião de especialistas, será um verdadeiro teste para a adesão da população às regras de redução do consumo. O especialista em energia da Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe) da UFRJ, Maurício Tolmasquin, disse que a meta de racionamento deveria ser reduzida à metade no verão (ou 10%) para atender à necessidade de cautela do governo em relação ao nível dos reservatórios e garantir que as pessoas continuem colaborando. "Nas estações mais quentes o racionamento será mais difícil, com certeza as pessoas vão reclamar mais e estarão mais resistentes aos apelos de necessidade da queda no consumo", prevê. "Estamos nas mãos de São Pedro", completa o secretário estadual de Energia do Rio de Janeiro, Wagner Victer. Somente no Estado, a disponibilidade de carga de energia cresceu, no ano passado, de uma média de 4.000 MW em julho para 4.600 MW em dezembro. Em janeiro de 2000, a média de carga era de 4.800 MW. Essa diferença de cerca de 800 MW entre os meses mais quentes e os mais frios é suficiente para abastecer uma cidade de um milhão de habitantes. Bares, restaurantes e agências de viagem, que devem recepcionar os 2 milhões de estrangeiros que vão passar pelo Brasil entre janeiro e dezembro - segundo estimativas da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav) -, além dos milhões de turistas brasileiros, já planejam estratégias de adaptação às metas a serem fixadas pelo governo. Ainda que oficialmente a Câmara de Gestão da Crise Energética (CGCE) não tenha fixado um prazo para o fim do racionamento, a avaliação geral é que ele prosseguirá até pelo menos o primeiro bimestre do próximo ano. O presidente da Abav, Goiaci Alves Guimarães, disse que a principal preocupação da entidade é com os hotéis de pequeno e médio porte, que terão maior dificuldade de adaptação ao racionamento em pleno verão. Segundo ele, 30% do total de pacotes turísticos comercializados no País estão concentrados no período entre dezembro e janeiro. No caso das grandes redes hoteleiras, geradores próprios deverão garantir o conforto dos turistas e a tranqüilidade dos empresários. A Abav deverá pleitear junto à Câmara um tratamento diferenciado para os pequenos hotéis. No caso dos shopping centers, que registram em dezembro o maior movimento do ano, o objetivo é compensar o aumento da utilização de ar-condicionado com redução da iluminação. O presidente da Associação Brasileira dos Shopping Centers (Abrasce), Hugo Matos disse que o setor se adaptou com tranqüilidade à redução do consumo no frio, mas "no verão a história muda muito". Apesar da decisão de compensar a necessidade de maior carga no ar-condicionado com a redução de lâmpadas, Matos disse que "o setor não está tranqüilo". Segundo ele, a avaliação é que é preciso esperar um pouco as definições do governo para a estação para decidir uma estratégia final de adaptação. Por outro lado, a Confederação Nacional do Turismo, que engloba bares e restaurantes, que têm pela frente o desafio da manutenção de cerveja, sorvetes e refrigerantes na temperatura correta, sugere a administração das geladeiras e freezers como forma de garantir o lucro no verão. Segundo explica o porta-voz da entidade, Lúcio Soares, os estabelecimentos estão fazendo um levantamento da quantidade de cerveja comercializada no ano passado para abastecer a geladeira apenas com a quantidade necessária. O cálculo tem como objetivo reduzir a carga dos refrigeradores e freezers, que quanto mais produtos comportam, mais consomem energia. Preocupações com a garantia do conforto no verão à parte, Tolmasquin ressalta a necessidade de continuidade do racionamento, já defendida pelo presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP), David Zylberstajn. Para ele, mesmo que o volume de chuvas seja suficiente para garantir uma "folga" no nível dos reservatórios a partir de novembro, o melhor é manter a cautela. A avaliação de Tolmasquin é que a CGE deve reduzir a meta de consumo, mas manter a economia para que não seja necessário um racionamento mais rigoroso no próximo ano, caso as chuvas não se revelem realmente suficientes.

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