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‘Anti-PT’, Vem Pra Rua desiste de aderir a ato unificado pelo impeachment

Grupo decide que não participa de protesto ao lado da sigla, e MBL deve repetir postura; líderes de centro ainda tentam construir ‘frente ampla’

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Pedro Venceslau e Túlio Kruse
Atualização:

O movimento Vem Pra Rua decidiu que não vai aderir às manifestações pelo impeachment marcadas para o próximo dia 2 de outubro – os atos são convocados pela campanha nacional ‘Fora Bolsonaro’. O motivo é a participação do PT, adversário histórico do grupo, na convocação do protesto. O Movimento Brasil Livre (MBL) ainda não deliberou sobre sua participação na manifestação de outubro, mas alguns integrantes sinalizam que a chance de aderir é baixa. 

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“Não faz sentido o Vem Pra Rua participar”, disse Luciana Aberto, porta-voz do VPR. “Nosso registro histórico é anti-PT. Não compactuamos com a candidatura do Lula.” 

Após a decisão do Vem Pra Rua, tomada em uma reunião nesta quinta-feira, 16, coordenadores do MBL avaliavam que dificilmente conseguirão um compromisso dos movimentos de esquerda para que o ato tenha o impeachment do presidente Jair Bolsonaro como pauta única, o que dificulta sua participação. Mais difícil ainda seria chegar a um acordo sobre as cores usadas no ato. O Vem Pra Rua e o MBL são avessos à ideia de marchar ao lado de estampas vermelhas. No último dia 12, os movimentos pediram a convidados que fossem de branco para tentar dar ao ato um caráter “apartidário”. O movimento ainda teria uma reunião na noite desta quinta, 16. 

Manifestação pelo impeachment de Bolsonaro em Brasília no dia 12 de setembro, convocadas pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

“Nós não devemos ir, porque dificilmente vai ser uma manifestação de uma pauta só”, diz a porta-voz do MBL Adelaide Oliveira. “Já sinalizaram com várias outras pautas, tipo assim: abaixo a reforma administrativa, Lula livre, Lula 2022. Não vai dar.” 

Adelaide diz, no entanto, que o movimento não deve trabalhar contra a convocação do ato pela esquerda. O deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP), que é coordenador do MBL, diz que até a noite desta quinta o assunto não estava decidido, mas também sinalizou que a adesão do grupo é difícil. “Estou sentindo que é difícil a gente aderir, porque é realmente uma manifestação com pautas de esquerda, não é uma pauta única.” 

O gesto vai na direção contrária do que líderes de centro tentam articular para os próximos meses. O movimento Direitos Já!, fórum que reúne 18 partidos da direita à esquerda, convocou uma nova reunião para esta sexta, 17, com a intenção de organizar para novembro um ato com figuras de um amplo espectro ideológico.

Segundo o coordenador do movimento, Fernando Guimarães, a presença do MBL na reunião ainda era esperada. Ele disse que a decisão do Vem Pra Rua não interfere na organização do ato. 

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“Não interfere em nada porque o movimento amplo já existe”, disse Guimarães. “Faremos essa mobilização com aqueles que tem essa compreensão de que não é um momento de disputa de protagonismo, e sim de deixar vaidades e interesses.” 

A decisão do Vem Pra Rua ocorre dias após o grupo ter participado o primeiro protesto de rua da centro-direita pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O ato do último dia 12 teve público estimado de 6 mil pessoas, menos do que protestos que vinham sendo organizados por movimentos de esquerda desde maio, apesar de ter recebido uma adesão do PDT de São Paulo e de centrais sindicais de última hora. 

Outro grupo que organizou o protesto do dia 12, o Livres ainda mantém disposição para participar do protesto ao lado da esquerda. Não é uma decisão definitiva, mas uma reunião do grupo decidiu dar início a uma interlocução com a campanha nacional Fora Bolsonaro, mas com a mesma reivindicação de que o próximo ato tenha como bandeira apenas o impeachment. “Gostaríamos de ver um compromisso em direção a uma pauta única, a exemplo do que defendemos para o dia 12”, disse o coordenador do Livres Magno Karl. “Achamos que o dia 2 é uma oportunidade para dar mais um passo na construção de uma coalizão ampla, em favor de um único objetivo.” 

A dificuldade de colocar MBL, Vem Pra Rua e simpatizantes do PT na mesma manifestação remonta à campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016, quando eles estiveram em lados opostos. Por isso, nos dois lados há ceticismo quanto à viabilidade de um palanque nos moldes da campanha Diretas Já, da década de 1980, que tem servido como meta para algumas lideranças mais centristas. 

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