Vallisney Oliveira, o juiz da Lava Jato que também é poeta

Site do magistrado titular da 10ª Vara Federal do DF oferece fartura de citações em prosa e verso

Por Luiz Maklouf Carvalho
Atualização:

“No açougue do amor tu cortas o teu peito, expões a alma com a carne que te excedes, apouca-te na tábua de propostas, rarefeito, existes retalhado sobre o balcão dos insetos.” O poema é do juiz Vallisney de Souza Oliveira – aquele mesmo da 10.ª Vara Federal de Brasília, responsável por ações das Operações Lava Jato, Zelotes e Greenfield, entre muitas outras que tramitam na primeira instância. É um “poema tentado”, como o chama o autor. Há outra meia centena deles no site que o magistrado mantém atualizado (vallisneyoliveira.com). Todos tem a data em que foram feitos. O já citado é de 22 de agosto. Chama-se Ama®garefe – um sutil trocadilho com o sinônimo de açougueiro/carniceiro.

Juiz analisa casos de Lava Jato e Zelotes. 

O poema tentado mais antigo, no site, é Punhal, de setembro de 2013: “Cravar um punhal na palavra/intrincado enredo de cada frase/e não ter medo de errar/travar uma luta em segredo/decapitar vírgulas/abolir crases...”. O mais recente, Óbito, é de 8 de setembro: “É mais um óbito/é mais uma morte/na porta da casa/na rua, no matagal/no bloco, na zona/no corredor do hospital, (...)/atestado do óbvio/atestado do óbito”. Além dos “poemas tentados” (leia mais abaixo), o site do juiz VSO, as iniciais com que assina suas tentativas, oferece a garantia de poemas transcritos, uma seleção para ninguém botar defeito. Estão lá Gonçalves Dias, Castro Alves, Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira, MuVarilo Mendes, Jorge de Lima, Ferreira Gullar, Mário Quintana e dezenas de outros poetas. Para citar um exemplo, vale o Quintana de Do Amoroso Esquecimento: “Eu, agora – que desfecho!/Já nem penso mais em ti.../Mas será que nunca deixo/De lembrar que te esqueci?”. Amazonense de Benjamin Constant, de 52 anos, o juiz federal é doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Foi promotor no Amazonas, procurador da República no Espírito Santo e, desde 1992, juiz federal no Amazonas (até 2006) e no Distrito Federal, desde então. É também professor na Universidade de Brasília (UnB). O mundo mundo vasto mundo soube que ele existia em outubro do ano passado, quando autorizou a prisão de policiais do Senado, na chamada Operação Métis. O então presidente da Casa, Renan Calheiros, o chamou de “juizeco”. A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Carmem Lúcia, tomou-lhe as dores. E desde então não se passa muito tempo sem que o titular da 10.ª Vara tome alguma decisão que abale alicerces.  O site é eclético. Para quem prefere a prosa, por exemplo, o magistrado oferta uma alentada coleção de citações jurídicas, literárias, sobre juristas e sobre direito processual – um dos temas de livros que escreveu, todos citados no site, entre eles, mais recente, O Juiz e o Novo Código de Processo Civil.

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