A deportação do tenista Novak Djokovic pelo governo australiano, motivada pela recusa do atleta em apresentar comprovante de vacinação contra a covid, movimentou perfis bolsonaristas nas redes e deu combustível para a publicação de mensagens desestimulando a imunização.
Apoiadores e políticos ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que também é contra a exigência de passaportes vacinais, passaram a ver no atleta um exemplo a ser seguido em defesa do que classificam como “liberdade”.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (Patriota-RJ), filho “Zero Três” do chefe do Executivo, fez uma publicação elogiosa chamando o sérvio de “líder mundial” antivacina. O parlamentar destacou que, caso vencesse a competição que motivou sua viagem à Austrália, o tenista poderia se consagrar como o maior campeão de todos os tempos em sua modalidade. Em vez disso, afirmou, Djokovic “optou pela liberdade” e se tornou uma liderança nesse quesito.
Seguindo um discurso na mesma linha de Eduardo, o tenente Mosart Aragão, assessor especial do presidente Bolsonaro, afirmou que o atleta “será sempre campeão para aqueles que valorizam a liberdade”. O ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, cujo perfil no Twitter é quase integralmente dedicado à não vacinação, alegou que o tenista teria “imunidade natural” por já ter contraído covid e que, por isso, segundo ele, não precisaria tomar a vacina. “Vão pagar um preço alto diante da história humana”, disse Terra.
O deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) também se manifestou em defesa do tenista. Ele rebateu a justificativa apresentada pela justiça australiana, que argumentou que a permanência do jogador no país estimularia a não vacinação: “Parabéns, Djokovic, você estimula a liberdade!”, escreveu Jordy.
Desde que foi levantada a exigência do comprovante de vacinação para acesso a estabelecimentos e a alguns países, grupos alinhados ideologicamente ao presidente Bolsonaro evocam a liberdade para defender que a população não se imunize contra a covid-19.
Contrariando o fato de a imunização coletiva reduzir o volume de casos graves e hospitalizações pela doença, bolsonaristas tentam manter o foco nos possíveis efeitos adversos dos imunizantes — por vezes, reais e previstos em bula, embora pouco frequentes; por vezes, falsos.
Em rara dissonância do discurso majoritariamente adotado pelos integrantes do governo federal, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu na última quinta-feira, 13, que pessoas não vacinadas são maioria entre os internados em hospitais e unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com coronavírus. O presidente Bolsonaro, porém, costuma reduzir a importância dos imunizantes e chegou a afirmar, em 2020, que um “histórica de atleta” seria o suficiente para proteger o organismo contra a doença.
Outro caso
Em 2021, o jogador de vôlei Maurício Souza também virou argumento para os apoiadores do presidente. O jogador teve o contrato rescindido pelo Minas Tênis Clube após publicações homofóbicas em suas redes sociais. Na época, o presidente saiu em defesa do jogador e disse, em entrevista à emissora Jovem Pan News, que "tudo é homofobia, tudo é feminismo".