O usineiro e ex-deputado federal João Lyra quebrou o silêncio e admitiu que teve sociedade com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na compra de uma rádio e um jornal. Afirmou ainda que, por sugestão de Renan, o negócio de R$ 2,6 milhões foi registrado em nome de laranjas. As declarações que complicam ainda mais a situação do presidente do Senado, que enfrenta pressão dos partidos de oposição para que ele deixe o posto, foram dadas em entrevista publicada pela revista Veja deste final de semana. Na entrevista, João Lyra, que foi aliado político e sócio de Renan e depois virou seu desafeto, disse que suas relações foram além das de negócio envolvendo a sociedade na JR Difusão. O usineiro afirmou que o presidente do Senado usou jatos e helicópteros cedidos por ele em passeios e viagens políticas. Documentos entregues à Veja registram que o senador usou as aeronaves de Lyra 23 vezes - o que custaria R$ 215.000. Mas tudo saiu de graça. Ao Jornal Nacional, da Rede Globo, Renan Calheiros negou qualquer sociedade formal com João Lyra, diz que "é tudo mentira" e que irá responder na hora certa com documentos. Para o corregedor do Senado, Romeu Tuma, as acusações de Lyra são graves e devem ser investigadas imediatamente. Reportagem que acompanha a entrevista de Lyra informa que no período em que eles foram sócios (1999 a 2005) o usineiro colocou à disposição de Renan um jatinho e um helicóptero da frota de uma de suas empresas, a LUG Táxi Aéreo. Há uma planilha de controle da empresa em que estão listadas as supostas viagens, roteiro, nome de passageiros, custo do vôo e o responsável pelo pagamento. Segundo a revista, as despesas foram todas contabilizadas em nome das usinas Laginha e Taquara, ambas pertencentes a João Lyra. A última viagem foi registrada no dia 25 de junho de 2005, três meses depois do fim da sociedade entre Renan e Lyra. O presidente do Senado teria usado o jato Hawker 800XP, prefixo PR-LUG, para viajar de Brasília a Belo Horizonte. Renan, sua mulher ,Verônica Calheiros, e amigas viajaram para uma festa de casamento de uma das filhas de Lyra. A viagem teria custado R$ 50 mil. Procurado ontem, Renan não foi localizado. Defesa Em sua defesa, Renan negou ser o proprietário da JR Difusão e evitou entrar em detalhes sobre a suposta sociedade com Lyra. Oficialmente o negócio entre Lyra e Renan foi montado em 1999 em nome de duas pessoas de confiança dos dois: Carlos Ricardo Santa Rita (pela parte do senador) e José Carlos Paes (pela parte do usineiro). O caso passou a ser alvo da Corregedoria do Senado. Revelações de que a parte dos negócios de Renan, que custaram R$ 1,3 milhão, foi toda paga em dinheiro vivo - parte em dólar - complicaram ainda mais a vida do senador. Posteriormente, a sociedade entre Lyra e Renan foi desfeita e a parte que cabia ao usineiro foi transferida para Ildefonso Antônio Tito Uchôa Lopes, que é primo de Renan e homem de confiança dele. Meses depois a parte em nome de Santa Rita - que é assessor do senador e foi tesoureiro de sua campanha - foi transferida para Renan Calheiros Filho. Em sua entrevista à Veja, Lyra fez elogios ao antigo sócio. "Renan foi um bom sócio. Todos os compromissos que assumiu comigo ele honrou. Foi bom enquanto durou." Mas ele joga a culpa sobre a tentativa de ocultar os negócios sobre o senador. Questionado sobre por que Renan não quis aparecer como sócio na compra do jornal e da rádio, o usineiro respondeu: "Ele me disse que não tinha como aparecer publicamente à frente do negócio, mas não explicou as razões. Por isso, pediu para colocarmos tudo em nome de laranjas. Eu topei". Matéria ampliada às 19h01