Uruguai critica impeachment de Dilma

Chancelaria do país vizinho disse considerar 'uma profunda injustiça' a destituição de Dilma Rousseff, a quem se refere como 'eleita legitimamente pelo povo brasileiro, 'apesar da legalidade invocada'

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Por Rodrigo Cavalheiro CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

O Uruguai engrossou ontem a lista dos países que criticaram o impeachment de Dilma Rousseff. Em um comunicado que a apresenta como “eleita legitimamente pelo povo brasileiro”, a chancelaria uruguaia disse considerar “uma profunda injustiça” a destituição “apesar da legalidade invocada”.

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Ontem, após a votação que cassou o mandato da petista no Senado, Bolívia, Equador e Venezuela chamaram seus embaixadores no País de volta. Os embaixadores brasileiros nos três países também foram chamados de volta, segundo o Itamaraty.

Sem mencionar o presidente Michel Temer, a nota divulgada pelo governo do Uruguai destaca ainda “o papel da presidente Dilma Rousseff em fortalecer a histórica relação bilateral” e deseja que o Brasil alcance estabilidade e desenvolvimento “dentro da institucionalidade democrática”.

O comunicado uruguaio amplia a distância entre a diplomacia dos dois países, que têm exposto suas diferenças dentro do Mercosul. O Uruguai defende a posse da Venezuela na presidência semestral e o Itamaraty é contra. O chanceler José Serra visitou Montevidéu em julho para tentar mudar a posição do vizinho. Um mês depois, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, afirmou a parlamentares que o Brasil tinha tentado na ocasião comprar o voto uruguaio com vantagens comerciais. O Itamaraty exibiu seu descontentamento chamando o embaixador uruguaio para explicar o caso. Nin Novoa então recuou e alegou tratar-se de um mal-entendido.

Notas. Além de convocar seus embaixadores anteontem, o Itamaraty emitiu duas notas. A primeira, para rebater especificamente às críticas feitas pelo governo da Venezuela e informar sobre a retirada do embaixador. A segunda, para responder às manifestações contrárias de Bolívia, Equador e Cuba.

A reação se enquadra numa orientação dada por Temer na abertura da primeira reunião ministerial. Após admitir que Dilma e seus apoiadores conseguiram difundir no exterior a tese do “golpe”, ele pediu à sua equipe para não deixar “nenhuma palavra” sem resposta.

“O Brasil chamou de volta o embaixador na Venezuela, porque eles fizeram o mesmo” , disse Serra, após a cerimônia de posse de Temer.

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A nota diz que o governo venezuelano “condena categoricamente o golpe de Estado parlamentar consumado no Brasil” contra Dilma e diz que a decisão contraria a vontade popular expressa no voto de 54 milhões de brasileiros e “altera a democracia nesse país irmão.”

Em resposta, a nota emitida pelo Itamaraty “repudia” essa manifestação. “Revela profundo desconhecimento da Constituição e das leis do Brasil e nega frontalmente os princípios e objetivos da integração latino-americana”, afirma.

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