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Unasul assinou carta de maioridade ao mediar crise boliviana

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Por NATUZA NERY
Atualização:

A reunião da Unasul (União dos Países da América do Sul) para tratar da crise na Bolívia foi a emancipação do bloco e um recado ao mundo de que a região pode resolver seus problemas sem a interferência dos Estados Unidos, avaliou o governo brasileiro. "Houve a perfeita noção de que aquilo (o encontro) era um momento histórico(...) A Unasul assinou sua carta de maioridade ontem", afirmou à Reuters um alto funcionário do Palácio do Planalto. O bloco, criado no início deste ano, foi acionado na véspera por conta da crise política na Bolívia. Na ocasião, a Unasul defendeu a legitimidade do governo Evo Morales e condenou qualquer movimento golpista por parte da oposição. Para um interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente ao encontro realizado no Chile na noite passada, o posicionamento da Unasul "jogou a bola" para a oposição boliviana. "Houve uma avaliação generalizada de que a oposição não terá como prosseguir no tom golpista. Se quiser evitar o isolamento absoluto, terá de disputar o poder no campo democrático." Em La Paz, o presidente Evo Morales disse que espera fechar em breve um acordo com a oposição para iniciar um diálogo que ponha fim ao conflito, já com um saldo de mais de 30 mortos e graves prejuízos econômicos. A avaliação do governo brasileiro de que o encontro foi um evento "histórico" de autodeterminação da América do Sul é comungada também por especialista. "Os países deslocaram o foco de atenção da OEA (Organização dos Estados Americanos) para a Unasul. A manobra fortalece, e muito, a dimensão política do grupo e afasta países hegemônicos da região", afirmou José Sombra Saraiva, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Durante a reunião, realizada no Palácio da Moneda, em Santiago, Morales apresentou aos colegas sul-americanos um vídeo para ilustrar a situação em seu país. A cena de indígenas sendo atacados em Santa Cruz "chocou" o presidente Lula, nas palavras de um dos membros da delegação brasileira. SÍMBOLOS A Unasul rechaçou qualquer tentativa de golpe. Não por acaso, incluiu na declaração final do encontro a menção aos 35 anos do golpe militar que levou à morte de Salvador Allende. Em uma pausa para fechar o texto do documento, a presidente chilena, Michelle Bachelet, conduziu seus pares a um "tour" pelo Palácio La Moneda, levando-os à sala em que o líder de esquerda morrera, em 11 de setembro de 1973. Para o governo brasileiro, o sucesso da reunião se mostrou também pelo comportamento dos líderes venezuelano, Hugo Chávez, e colombiano, Alvaro Uribe. Chávez bem que acusou a Casa Branca de tramar um golpe contra Morales, seu principal aliado na região, mas a posição do presidente de esquerda não dominou nem reverberou no âmbito da Unasul. Já Uribe, alinhado com Washington, compareceu à reunião declarando apoio ao governo boliviano. Tanto a Bolívia quanto a Venezuela expulsaram os embaixadores norte-americanos. Segundo a fonte brasileira, os presidentes sul-americanos não falaram de Estados Unidos nem de gás, tema de interesse do Brasil e da Argentina. Os dois países são altamente dependentes do gás boliviano.

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