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Uma página rasgada nos livros

Brasil nem sabe, mas derrota naval vale festa na Argentina

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Por José Antonio Pedriali e LONDRINA
Atualização:

Carmen de Patagones é uma cidade da Argentina desconhecida até mesmo para a maioria dos argentinos. Que também desconhecem o fato mais importante ocorrido lá, há exatos 182 anos. Surgida na segunda metade do século 18 e hoje com cerca de 18 mil habitantes, é uma cidadezinha simpática, a mil quilômetros de Buenos Aires, que escorre por uma ladeira até encontrar-se com o Rio Negro, na Patagônia. Possui centro histórico conservado e sua catedral, dedicada à Virgem do Carmo, expõe duas bandeiras - do Império do Brasil. Essas bandeiras explicam o que ocorreu ali em 7 de março de 1827 - e que constitui o maior vexame naval da história brasileira. Naquele dia uma força-tarefa a serviço do Império, formada por 4 navios de guerra e 650 homens, foi derrotada por um bando de corsários de várias nacionalidades. O Brasil estava em guerra com a Argentina (1825-28) pela posse do atual Uruguai. Dispondo de poucos navios de combate, os argentinos arregimentaram esses aventureiros para seu esforço de guerra. Sua missão era apreender e saquear navios mercantes brasileiros. Essa ação causou prejuízos colossais ao Brasil. E para a já abalada imagem de D. Pedro I. Bloquear o porto de Buenos Aires era crucial para os propósitos brasileiros, mas a tarefa era difícil. Apesar da superioridade sobre os argentinos, os veleiros brasileiros eram para alto-mar e inadequados para aquele cenário. E tudo o que não poderia ter ocorrido aconteceu: planejamento deficiente, desconhecimento das armadilhas do rio, tempo traiçoeiro e a determinação do comandante de cumprir as ordens a ferro e fogo. Por fim, após um desembarque não planejado, um guia pouco confiável conduziu marinheiros e soldados, sem água, alongando penosamente o trajeto numa noite de calor exasperante. Quando estavam extenuados e o dia amanhecia, o adversário lançou-se sobre eles e se impôs facilmente. Não restou alternativa que não a rendição. Carmen de Patagones comemora o 7 de março por 15 dias. O Brasil nem sequer o registra o episódio em sua historiografia oficial. Já as bandeiras expostas na Catedral de Carmen pertenciam à corveta Itaparica.

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