A queda de braço entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal é chamada nos bastidores do Planalto de “gambito da rainha”, uma jogada de mestre no xadrez. Além de emparedar o STF, a “rasteira” dada por Bolsonaro na Corte serve como biombo para esconder escândalos de corrupção do governo. E um desses fios desencapados está justamente no Ministério da Educação.
Seis dias depois do indulto presidencial concedido ao deputado Daniel Silveira – que ameaçou bater com um “gato morto” em ministros do STF –, a Comissão de Educação do Senado tentou ouvir Darwin Einstein Lima. Trata-se do engenheiro que atuava como consultor do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), controlado pelo Centrão do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Dono de uma empresa que fechou contratos com prefeituras atendidas pelo FNDE, Darwin recebeu R$ 2,4 milhões para facilitar a liberação de recursos a municípios maranhenses, como mostrou o Estadão.
Convidado a prestar depoimento no Senado, o consultor não compareceu. Sem ele, travou-se na audiência um debate sobre a relação entre o nome Darwin Einstein e sua “onipresença” nos dois lados do balcão.
“Darwin era consultor do FNDE e atuava na outra ponta. A habilidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo contraria teorias de Einstein”, filosofou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Esperidião Amin (PP-RS) não se conteve e pediu a palavra para contestar. “O dom da ubiquidade não é de Einstein nem de Darwin. É de Santo Antônio”, retrucou. Randolfe jogou a toalha.
Ironias à parte, onde estão agora, além de Darwin, os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, acusados de cobrar propina para destravar pedidos de prefeituras ao MEC?
Faz duas semanas que Bolsonaro só aumenta a crise com o Supremo, enquanto a inflação e o desemprego correm soltos. E, por falar em soltura, como andam as investigações sobre a denúncia do prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga, que acusou o pastor Arilton de pedir um quilo de ouro para atender escolas e creches?s?
Joias em ouro, aliás, sempre acompanharam a crônica política. Há muitos anos, o então senador Eduardo Suplicy (PT-SP) – hoje vereador – fazia campanha em Sapopemba, na zona leste, quando uma mulher o abordou.
“Político só vem aqui na eleição. Fala ‘joinha, joinha’ e vai embora”, reclamou a eleitora. “A senhora está dizendo que tem candidato que passa aqui distribuindo joia?”, perguntou um atônito Suplicy, já imaginando a denúncia sobre compra de votos.
A mulher não entendeu nada. O caso virou piada na época, mas o fato é que precisamos ficar cada vez mais atentos. Hoje em dia, “joinha” pode não ser o que parece. Ainda mais no país das rachadinhas.
REPÓRTER ESPECIAL