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UE quer que Brasil pague a conta na Rodada Doha, diz Amorim

Na África, ministro rebate acusações contra postura brasileira em negociações.

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Por Rogério Wassermann
Atualização:

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu nesta quarta-feira em Pretória, na África do Sul, as críticas feitas pela União Européia e pelos Estados Unidos contra a suposta falta de flexibilidade do Brasil nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). "A Europa diz que a culpa é nossa porque querem fazer um 'acordo de cavalheiros' com os Estados Unidos e que nós paguemos a conta. Não vai ser assim, não será mais assim." "A OMC nunca mais será assim. Desde que o G-20 foi criado, a OMC nunca mais será assim. A última tentativa de fazer isso foi em Cancún", disse Amorim. A reunião da OMC no balneário mexicano em 2003, apontada como o evento que deveria consolidar um acordo para um avanço concreto na Rodada Doha, entrou em colapso por causa das profundas divergências entre a União Européia, os Estados Unidos e os países do G-20. Desde então, as negociações, que buscam a flexibilização do comércio internacional, continuaram com poucos avanços e, no momento, encontram-se em um impasse. Na semana passada, o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, disse que o Brasil "não está ajudando o sucesso de Doha com suas críticas a outros parceiros" e pediu que o país e outros emergentes deixem claro que não estão "andando para trás" nas negociações. Por sua vez, em junho, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, acusou Brasil e Índia de bloquear as negociações na OMC. O grupo dos países em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte, exige que os países desenvolvidos abram seus mercados para produtos agrícolas, reduzindo tarifas de importação e eliminando subsídios aos produtores. Por outro lado, a União Européia e os Estados Unidos exigem que os países em desenvolvimento abram seus mercados a produtos industrializados e no setor de serviços. Amorim disse que Bush ligou na terça-feira à noite para o presidente Lula para conversar sobre as negociações da Rodada Doha. Bush também teria ligado para o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh - que, como Lula, viajou a Pretória para participar do encontro de cúpula do Ibas, grupo que reúne Brasil, Índia e África do Sul. A conversa entre Bush e Lula teria durado de 20 a 30 minutos e girado em torno somente do tema da Rodada Doha. Segundo Amorim, Bush pediu o empenho do Brasil para continuar de maneira firme nas negociações. "Eles têm interesse em terminar a rodada, isso é uma coisa nítida, assim como nós também temos", disse Amorim. Na segunda-feira, a OMC decidiu a favor do Brasil no painel que analisou a reclamação brasileira de que os Estados Unidos não cumpriram a decisão anterior da entidade sobre subsídios concedidos aos produtores de algodão americanos. Amorim disse que Lula e Bush não falaram sobre o assunto. "Não, porque também não precisamos ficar esfregando na ferida, né?", disse o ministro. "Eles reconheceram que perderam, tanto que disseram estar desapontados." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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