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Neste ano, muito mais brasileiros receberão o 13.º salário - serão 4,9 milhões de trabalhadores mais do que em 2009 - e cada um receberá, em média, 6,5% mais (em valores nominais) do que o valor médio dos pagamentos feitos no ano passado. Desse modo, até o fim do ano, deverão ser injetados na economia cerca de R$ 102 bilhões por conta do pagamento do 13.º salário, 20% mais do que em 2009. O total do 13.º a ser pago em 2010 corresponde a aproximadamente 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB).

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Por AE
Atualização:

 

Vistos pelo lado da demanda, esses dados, aferidos pelo Departamento Sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), se somam a outros sinais animadores que tendem a impulsionar ainda mais a atividade econômica. Números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que se mantém firme a tendência observada há alguns meses no mercado de trabalho das seis principais regiões metropolitanas de redução progressiva no índice de desemprego e de aumento contínuo do rendimento real médio dos empregados e, consequentemente, da massa salarial real.

 

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O trabalho do Dieese baseia-se em informações oficiais do Ministério do Trabalho sobre o emprego formal, isto é, com registro em carteira, do Ministério da Previdência e Assistência Social, da Secretaria do Tesouro Nacional e do IBGE. Seus cálculos, por isso, incluem trabalhadores formais dos setores público e privado e os aposentados, tanto do INSS como do governo. Mas excluem os autônomos e os trabalhadores sem registro em carteira profissional. Por isso, o valor total do 13.º salário pode ser maior do que o estimado.

 

O que impressiona nesse estudo é o número de pessoas que receberão o abono de fim ano. Serão 74 milhões de brasileiros, 7% mais do que o total de pessoas que receberam o 13.º em 2009. "A retomada das contratações em ritmo mais vigoroso, em 2010, foi sem dúvida um elemento importante para que o conjunto de beneficiários do abono neste fim de ano tivesse um crescimento maior do que o observado em 2009", explica o Dieese.

 

E as contratações prosseguem. O índice de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas apurado pelo IBGE ficou em 6,2% em setembro, 0,5 ponto porcentual menor do que em agosto e o menor de toda a série do IBGE, iniciada em março de 2002. O índice médio de desemprego no período janeiro-setembro, por sua vez, ficou em 7,1%, o menor desde 2003, primeiro ano em que há dados para todos os meses.

 

O rendimento real médio dos trabalhadores também continua a avançar. Em setembro, foi 1,3% maior do que o de agosto e 6,2% superior ao de setembro do ano passado, já descontados os efeitos dos fatores sazonais, de acordo com cálculos da consultoria Tendências. Com o aumento simultâneo da renda real média e do nível de emprego, a massa salarial real de setembro foi 10,1% maior do que a do mesmo mês de 2009. No ano, de acordo com a estimativa da consultoria, o aumento deve ficar em 7%.

 

Muito pouco desses resultados pode ser atribuído às contratações temporárias motivadas pelas eleições. Se tivessem sido relevantes, essas contratações teriam aumentado o grau de informalidade e provocado queda do rendimento médio, o que não aconteceu. Assim, a boa situação para os trabalhadores das regiões metropolitanas é consequência do "cenário econômico favorável", segundo o gerente da pesquisa mensal de emprego do IBGE, Cimar Azeredo.

 

O que essas duas pesquisas mostram é que há cada vez mais gente trabalhando e recebendo cada vez mais pelo trabalho. Há também mais brasileiros recebendo aposentadoria e, em média, o abono individual é maior do que o de 2009. É um cenário ótimo, de estímulo contínuo e cada vez mais intenso ao consumo, mas nele já se vislumbram sinais de advertência.

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A demanda e o consumo têm apresentado aumento maior do que o da capacidade de produção da economia brasileira. Por isso, se mantidas as tendências observadas até agora, o mercado de trabalho se tornará importante fonte de pressões inflacionárias já no início de 2011.

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