Trio escalado para evitar demissão de Moro cogitou buscar mulher de ministro em avião da FAB

Grupo formado por Carla Zambelli, Fabio Wajngarten e major Cid acabou desistindo da ideia

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Por Ricardo Galhardo
Atualização:

Na madrugada que antecedeu a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça, um trio de "bombeiros" ficou encarregado de apagar o incêndio e tentou de várias formas convencer o ex-juiz a permanecer no cargo. Procuraram amigos pessoais do ex-ministro e chegaram a cogitar o envio de um avião da FAB a Curitiba para levar Rosângela, a mulher de Moro, da capital paranaense a Brasília.

Formado pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP), o secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, e o Major Cid, ajudante de ordens da Presidência, o trio chegou à conclusão que talvez a insistência de Moro em deixar o governo pudesse ser mais por fatores pessoais do que políticos.

Moro foi padrinho de casamento de Zambelli; em vídeo divulgado pela deputada em fevereiro, ex-ministro discursa desejando felicidades ao casal. Foto: Reprodução/ Instagram/ Carla Zambelli

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Os demais ministros e o próprio presidente Jair Bolsonaro sempre registraram a dificuldade de interação com o ex-juiz de Curitiba devido ao temperamento tímido e às vezes seco, demasiadamente formal, de Moro. “A única situação em que ele se abria era depois de tomar três taças de vinho. Aí ele se tornava um cara divertido, preocupado em saber da vida das outras pessoas”, disse um auxiliar de Bolsonaro.

Na avaliação de fontes do Planalto, o temperamento arredio de Moro foi agravado pela solidão de Brasília. Sem amigos com quem pudesse se abrir e sem a família, que permanecia a maior parte do tempo em Curitiba, Moro entrou numa “onda ruim”.

Zambelli decidiu tentar quebrar o gelo entre Moro e Bolsonaro e procurou a primeira-dama, Michelle, para propor um almoço dos três casais – naturalmente regado a vinho. A proposta para o almoço está na troca de mensagens com a deputada exibida por Moro sexta-feira. 

Diante do convite o ex-ministro responde friamente: “Rosangela está em Curitiba”.

Como não havia vôos comerciais disponíveis para a esposa do ex-ministro chegar a tempo para o almoço em Brasília, o trio de bombeiros cogitou enviar um avião da FAB a Curitiba. A ideia quase foi posta em prática mas foi descartada por razões legais. Qual ministro se disporia a assinar a requisição de um avião por motivo que poderia ser alvo de questionamentos na Justiça?

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Em paralelo, os bombeiros apelavam para outras relações pessoais do casal. O primeiro a ser procurado foi o cientista político e empresário Antoine Daher, o Toni, presidente da Casa Hunter e da Federação Brasileira de Associações de Doenças Raras, um dos melhores amigos do casal. Não funcionou. 

As tentativas de apaziguar a relação entre Moro e Bolsonaro vararam a madrugada de sexta-feira, sem resultados.

Na manhã deste sábado, Bolsonaro, de bermuda e chinelos, reuniu o grupo mais próximo para avaliar o estrago causado pela demissão de Moro. Segundo um participante da conversa, o presidente estava tranquilo. Um dos auxiliares do presidente comparou a situação com a derrota do Brasil para a Itália por 3 a 2 na semifinal da Copa do Mundo de 1982. “Moro perdeu. Mas perdeu jogando bonito. Por isso sai com a imagem em alta”.

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