Três líderes garimpeiros de Serra Pelada se dizem marcados para morrer

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Por Agencia Estado
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Luiz da Mata, João Lepos e Raimundo Benigno, três líderes do garimpo de Serra Pelada, denunciaram em Curionópolis, no sul do Pará, que estão em uma lista de garimpeiros marcados para morrer. O quarto da suposta lista, o presidente do Sindicato dos Garimpeiros de Curionópolis, Antonio Clênio Cunha Lemos, foi assassinado a tiros, no último domingo, por um pistoleiro. O sindicalista foi enterrado no final da tarde desta terça-feira, em meio a protesto de dez mil garimpeiros. Cerca de 80 policiais militares acompanharam a manifestação. Garimpeiros acusam Curió Os garimpeiros que se dizem ameaçados de morte acusam o ex-agente do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) e atual prefeito do município, Sebastião Curió, de ter articulado a eliminação deles para ficar sem adversários no comando de Serra Pelada e explorar com seu grupo uma jazida onde estariam armazenadas cerca de 100 toneladas de ouro. "A impunidade é total no Pará, e a grande responsável por isso é a Justiça Estadual, que não pune os criminosos", afirma a presidente da União Nacional dos Garimpeiros e Mineradores, Jane Rezende. Ela não tem dúvida em apontar Curió como principal suspeito de encomendar o crime. E explica: "O Clênio tinha em Curió seu inimigo número um". Curió nega Curió voltou a negar qualquer participação na morte do sindicalista e se diz disposto a colaborar com a polícia para a prisão do assassino. O secretário de Defesa Social do Pará, Paulo Sette Câmara, pediu aos grupos rivais de Serra Pelada que aguardem a manifestação da Justiça sobre quando será feita nova eleição na Cooperativa dos Garimpeiros. O governador Almir Gabriel, durante reunião com os líderes dos garimpeiros, pediu que as divergências entre eles sejam resolvidas de maneira "pacífica". O mesmo pedido foi feito pelos integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, que estão em Curionópolis. Garimpeiros querem entrar em Serra Pelada Os garimpeiros se comprometeram a evitar um confronto de graves proporções. Mas Luiz da Mata foi taxativo: "Os nossos seis mil garimpeiros querem e vão entrar em Serra Pelada. Isso é inegociável". O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Pará, Ophir Cavalcante Júnior, que participou da reunião do governador com os garimpeiros, disse que, se não houver uma solução conciliadora, "somente o Exército poderá evitar o pior". Denúncia De acordo com Jane, a vítima havia denunciado o esquema de Curió para a venda de uma área da Cooperativa dos Garimpeiros à Companhia Vale do Rio Doce - que alega ser proprietária de uma parte da área onde Serra Pelada está localizada. A Vale iria explorar calcário no local. "O sindicalista assassinado também havia pedido a reintegração dos 43 mil garimpeiros que Curió expulsou da cooperativa", afirma Jane. A garimpeira acrescenta que Curió ficou furioso com a interferência de Clênio e tentou fazer com que o então presidente da entidade, João Lepos, assinasse o documento de venda das terras à Vale, mas ele também se negou e por isso foi afastado do cargo. Lepos foi reintegrado no final da semana passada por decisão judicial. Abusos teriam começado na época da guerrilha Para Jane, Curió espalha a violência no sul do Pará porque teria "sustentação de várias autoridades". Os abusos do ex-agente do SNI, resume, começaram durante a Guerrilha do Araguaia, na década de 70. "Hoje, ele mantém 800 homens de sua confiança em Serra Pelada. São os "marimbondos", antigos mateiros da época da guerrilha, que ganharam lotes de terra na região por denunciarem os guerrilheiros.

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