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Trapalhadas e sinais trocados marcam fim da era Palocci

A confusão no anúncio da saída de Palocci, contudo, parece apenas coroar o tumultuado período final da passagem do ministro Palocci pelo mais alto posto da economia brasileira.

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Por Agencia Estado
Atualização:

Não podia ser mais atabalhoada a saída de Antonio Palocci do ministério da Fazenda. Tudo pareceu improvisado nos acontecimentos hoje em Brasília. Primeiro, uma nota curta foi divulgada pelo ministério da Fazenda comunicando que o ministro estava enviando ao presidente Lula uma carta pedindo seu "afastamento" do cargo. O termo afastamento foi entendido inicialmente pelo mercado como sinal de que o ministro não havia se demitido definitivamente, podendo preservar seu foro privilegiado para julgamento no supremo Tribunal Federal (STF). Ao mesmo tempo, seria aberto espaço para que Palocci fosse substituído por um interino, no caso o secretário executivo Murilo Portugal. Contudo, logo em seguida surgiram informações, extra-oficiais, dando conta que o afastamento ao qual se referia a nota era mesmo uma demissão. A seguir, informações também extra-oficiais indicavam que o substituto de Palocci seria Guido Mantega, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E, até minutos atrás, não havia uma informação oficial sequer sobre estes dois temas: oficialmente, não se sabe ainda se Palocci foi ou não demitido, ou demitiu-se, e se Mantega é mesmo ou não o novo ministro da Fazenda (embora todos os principais meios de comunicação já tenha dado a informação em "off"). Isto tudo depois de o mercado ter passado o dia todo seguindo uma pista, aparentemente, errada: a de que o favorito a assumir a Fazenda era Aloizio Mercadante, que tinha uma reunião marcada com Lula para esta noite. Denúncia do jornal A confusão no anúncio da saída de Palocci, contudo, parece apenas coroar o tumultuado período final da passagem do ministro Palocci pelo mais alto posto da economia brasileira. A situação do ministro piorou depois da entrevista do caseiro Francenildo Costa ao Estado. Mas o golpe fatal veio por uma ação do próprio governo, acontecida dentro da Caixa Econômica Federal, instituição subordinada à Fazenda. Foi dentro das dependências da Caixa que o sigilo do caseiro foi quebrado, numa ação que, inicialmente, imaginava-se poder desmoralizar o depoimento de Francenildo. O tiro, porém, saiu pela culatra. O próprio ministério passou a ser acusado de responsabilidade pela quebra de sigilo e a situação do ministro no governo tornou-se insustentável. Hoje, o anúncio de sua demissão acontece justamente após o presidente da Caixa, Jorge Mattoso, ter confirmado à PF que entregou pessoalmente a Palocci o extrato da conta poupança do caseiro. Por sorte, Palocci deixa a economia com os indicadores arrumados, sobretudo na área externa e no combate à inflação, e o cenário externo segue ajudando. Assim, mesmo após estas trapalhadas finais, e desde que o novo ministro consiga sinalizar uma política consistente sem hesitação, os mercados poderão absorver a mudança de comando sem maiores traumas. Mas, desde a crise do mensalão, o fato é que este é um governo que parece abusar do direito de cometer erros.

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