Transplante de fígado gera polêmica

Por Agencia Estado
Atualização:

Só dois brasileiros em cada um milhão são doadores de órgãos. Segundo indicadores internacionais, o número deveria ser de no mínimo 20 para atender à demanda por transplantes. Os espanhóis são os campeões da doação de órgãos: em cada milhão de habitantes, 40 são doadores. O cotidiano do editor Geraldo Jordão, de 64 anos, seria comum se não fosse o cansaço que ele sente no fim da tarde. Corpo inchado e dieta restrita são outros itens da sua rotina. Jordão tem hepatite C. Contraiu a doença há 16 anos, por transfusão de sangue. Naquela época, o vírus não tinha sido descoberto e, por isso, os bancos de sangue não tinham como testar seus estoques contra o agente. Há um ano e meio, Jordão entrou na fila de espera por um fígado. Mora no Rio, mas se trata em São Paulo; por isso está na fila paulista. "O que mais me preocupa é a incerteza sobre quando chegará minha vez." A longo prazo, a hepatite C - um tipo crônico da doença - provoca cirrose e câncer, levando o paciente à insuficiência do fígado e necessidade de um novo órgão. Com a doença sob controle, Jordão pode até esperar que sua vez chegue. "Estou em 96.º lugar na fila." Mas essa não é a situação de todos. O desespero do engenheiro F. O., de 58 anos, é tão grande que a única saída encontrada pela família foi apelar à Justiça. Recorreram à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - Seção São Paulo para reivindicar que o critério de gravidade do paciente seja considerado quando ele entra para a fila de espera do fígado. A ação da OAB deve sair dentro de 20 dias, solicitando tais mudanças na dinâmica da fila do fígado - que obedece ordem cronológica. F. O. teve hepatite B há 25 anos. A doença ficou crônica e causou um tumor em seu fígado. Desde setembro do ano passado, outras complicações apareceram. No fim do ano, o engenheiro teve de abandonar o trabalho por causa de seu estado de saúde. Na fila há apenas três meses, F. O. não tem condição física de esperar muito tempo pelo transplante. Para quem entra na fila do fígado, o tempo médio de espera é de dois anos. Para o médico Hoel Sette, hepatologista do Hospital Emílio Ribas, é mais do que hora de o Ministério da Saúde alterar os critérios da fila para transplante de fígado. Sette defende que pacientes mais graves deveriam ter prioridade sobre quem está bem. "Portadores de insuficiência hepática não têm outra chance de vida além do transplante. A fila do fígado, só pela ordem cronológica, é uma fila da morte." "A medicina desconhece formas eficientes de agrupar os pacientes hepáticos terminais sob critérios de gravidade", diz o cirurgião Sérgio Mies, chefe da Unidade do Fígado do Hospital das Clínicas (HC). Para ele, o principal é discutir formas de aumentar o número de doadores.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.