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Transferência de pós-graduação preocupa cientistas

Por Agencia Estado
Atualização:

A possibilidade de transferência dos cursos de pós-graduação dos institutos federais de pesquisa para as universidades foi o ponto mais polêmico da reunião promovida nesta terça-feira pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para discussão do relatório da Comissão Tundisi. A comissão fez uma avaliação do papel que cada instituto deveria cumprir e apresentou mudanças e áreas estratégicas nas quais deveriam atuar. A presidente da SBPC, Glaci Zancan, considerou a discussão desfocada, pois ficou centralizada no problema da pós-graduação. "Precisamos discutir as áreas definidas pelo relatório como sendo prioritárias e as metas que serão estabelecidas para cada instituto numa discussão mais ampla", disse. A comissão propôs uma redefinição das missões das 22 unidades de pesquisa analisadas, que empregam 10.003 pessoas, 1.123 doutores - o que representa 4,1% dos pós-doutorados do Brasil - e 2.129 bolsistas, além dos trabalhadores não ligados diretamente à produção científica. Em 2000 o governo investiu R$ 552 milhões nesses institutos. O relatório sugeriu que eles sejam classificados como institutos nacionais, laboratórios nacionais, laboratórios associados, centros de competência e referência e redes temáticas de pesquisa. Esta última teria uma duração limitada, sendo formada para trabalhar em um projeto específico, como acontece com a Rede ONSA, feita em São Paulo para estudo do genoma. Os institutos deverão atender a dois critérios básicos: ter trabalhos de abrangência nacional e uma missão singular, que não seja competência de várias instituições, como por exemplo, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS). "Montar um laboratório como este em outras partes do País é complicado porque requer um alto investimento. E o laboratório, apesar de estar em Campinas (SP), pode atender à demanda nacional", explicou João Steiner, secretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa. Uma mudança pontual na proposta no relatório preocupou mais os pesquisadores na reunião: a determinação de se encerrar a matrícula dos estudantes de pós no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), do Rio de Janeiro. "A comissão que visitou o CBPF fez propostas absurdas, como reduzir em um quinto o quadro de pesquisadores. O relatório é explícito quanto à extinção da pós-graduação, quando diz que as matrículas não devem ser mais feitas a partir do segundo semestre de 2002", disse Alberto Passos Guimarães, representante do centro. Reinaldo Guimarães, conselheiro da SBPC, lembrou que a existência da pós-graduação nas unidades de pesquisa se justificou no passado como uma necessidade. "Os institutos que não fizeram cursos de pós patinaram ou entraram pelo cano. A pós foi por um bom tempo uma solução tampão para a falta de política de ciência e tecnologia no País", ressaltou. "Temos de pôr em curso as coisas novas enquanto substituímos as antigas. Não estamos propondo a extinção da pós nas unidades, mas a realização das mesmas em parceria com as universidades", explicou Carlos Américo Pacheco, secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). "Não haverá descontinuidade de nada", garantiu ele, falando dos cursos de pós. Pacheco também explicou que a realização da pós em convênio com as universidades ou outras medidas do relatório não objetivam a contenção de gastos. "Pelo contrário, teremos de investir mais na formação dos centros de referência", afirmou. A comissão propôs a formação do Laboratório Nacional de Ciências e Tecnologia do Mar, do Instituto Nacional de Pesquisas do Semi-Árido Nordestino, e dos centros de referência para inovação de produtos cerâmicos, em produtos mecatrônicos e em sistemas de energia solar. O relatório indicou também as áreas estratégicas a serem trabalhadas pelas unidades: ciência e tecnologia para Amazônia, Biotecnologia e Biossegurança, Tecnologia da Informação, Inovação para Competitividade, Tecnologia Industrial Básica, Ciência e Tecnologias do Mar, Ciências Sociais, Energias Alternativas, Materiais Avançados, Recursos Hídricos, Nanotecnologia e Tecnologia Aeroespacial. O próximo passo do MCT na adoção das medidas sugeridas pela Comissão Tundisi será a discussão com os diretores dos institutos para a formatação de um documento que conterá as metas que cada instituto deverá cumprir. Segundo Pacheco, também serão definidas as medidas a serem adotadas em caso de não cumprimento das metas por parte dos institutos. A SBPC fará um documento apontando sugestões de mudanças do relatório da Comissão Tundisi que será encaminhado ao MCT.

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