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Tom de campanha de Bolsonaro permanecerá nas redes durante mandato, diz analista

Professor Pablo Ortellado diz que Bolsonaro foi eleito como 'candidato antisistema' que elegeu como alvo 'os partidos tradicionais e a imprensa'

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Por Carla Bridi
Atualização:

A manutenção de uma base aliada através das redes sociais necessita de divulgação constante de conteúdo movido pelas emoções. A avaliação é do professor do curso de gestão de políticas públicas da Universidade de São Paulo (USP), Pablo Ortellado.

Segundo ele, as postagens como a do presidente da República, Jair Bolsonaro, que no domingo reproduziu em sua conta no Twitter uma notícia falsa envolvendo uma repórter do Estado, fazem parte da estratégia de manter a imagem de inimigos do governo através de postagens que gerem repercussão elevada.

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Alan Santos/Planalto

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Tal postura não deve ser alterada ao longo do mandato, por não haver motivos para isso, segundo Ortellado. Confira trechos da entrevista:

Qual o significado de se utilizar as redes sociais para atacar e desqualificar o trabalho jornalístico?

A campanha de Jair Bolsonaro foi muito sistêmica, através de um discurso antielitista que atribui os males da Nação a uma elite corrupta. Isso significa que os alvos do candidato antissistema foram os partidos tradicionais e a imprensa. Isso está enraizado na campanha, e esse tom não será perdido durante todo o mandato, acredito. 

O 'Estado' apurou que a conta do Twitter do presidente Jair Bolsonaro apresenta postagens de ataque à imprensa em média a cada três dias. Isso se configura como uma estratégia governamental?

O discurso do presidente tem como base o populismo. O antisistema cria um processo de mobilização, e frequentemente esse discurso tambem é anti imprensa. Uma vez que se dispensa e antagoniza os meios de comunicação, passa a se comunicar com a sua base diretamente pelas redes sociais. Essa comunicação precisa ser permanente. A base precisa ser constantemente mobilizada, senão a mensagem não trafega. É por isso que o presidente não pode ter uma postura mais presidencial. 

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Quais são as características de uma postura menos presidencial? 

O que está sendo feito é ver a ação regular da imprensa, cuja missão é fiscalizar a atividade do Estado, como uma ação maliciosa para derrubar o presidente. Já que isso está sendo feito, segundo o ponto de vista do governo, é preciso derrubar a velha elite que não dá a chance de renovação. Do ponto de vista partidário, o grande salto que tivemos do antipetismo e anticorrupção é a generalização do antipetismo para todos os partidos tradicionais. Compara-se os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula como farinha do mesmo saco.

Existe a possibilidade de se alterar essa estratégia, a fim de expandir o leque de apoio do presidente?

Não há estímulo para fazer isso, uma vez que a campanha foi completamente polarizada. A estratégia antagônica no jogo eleitoral garantiu uma vitória folgada, e parece que o presidente está pesando a mão cada vez mais. Uma mudança de tom diminui a presença dele nas redes, já que é preciso compartilhamentos para atingir milhões de pessoas. Uma mensagem reflexiva e presidencial não gera isso. Uma mensagem eficiente nas redes sociais é sempre carregada de emoção. 

Referente aos compartilhamentos, qual é a relevância dos robôs (bots)?

Não podemos confundir. Esse fenômeno de divulgação não é inteiramente fabricado. Os robôs levantam o tema, geram uma hashtag, mas só passa a fazer sentido quando pessoas reais compartilham a mensagem, até porque pessoas reais não seguem robôs. 

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