PUBLICIDADE

TJ do Rio faz cruzada em defesa do crucifixo

Zveiter adota ecumenismo na corte e incomoda colegas

PUBLICIDADE

Por Wilson Tosta
Atualização:

Desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça fluminense deixaram de lado ontem, por alguns minutos, as questões jurídicas às quais estão habituados para debater a iniciativa do novo presidente do TJ, Luiz Zveiter, de retirar da sala de sessões um crucifixo e de substituir a capela católica por um espaço ecumênico. Magistrados que não apoiaram Zveiter na disputa pela presidência contestaram a decisão e pediram a volta do adorno e o fim do novo templo ou que as medidas no campo religioso, anunciadas na semana passada, fossem submetidas ao voto da cúpula do Judiciário. Zveiter - que defendeu a decisão alegando o caráter laico (sem religião) do Estado e presidia a primeira sessão da sua gestão - não aceitou nenhuma das propostas e manteve as medidas. No início da sessão, o desembargador José Motta Filho, que declarou não ter votado em Zveiter, referindo-se ao crucifixo retirado, pediu a volta de "um amigo que ficava aqui de braços abertos, não recebe salário, não usa assessor, não usa carro, não gasta combustível" ou o fim do espaço ecumênico, já que o Estado é laico. Zveiter interpretou as declarações como críticas aos juízes, devido às reclamações contra vantagens do Judiciário, e rebateu: "Vossa Excelência foi descortês", disse. Ele também justificou sua negativa a submeter sua decisão à apreciação do Órgão Especial. "Quando assumi, jurei defender a Constituição e as leis. Estou cumprindo o juramento que fiz: a Constituição diz que o Estado é laico." Motta Filho teve apoio dos desembargadores Galdino Siqueira, que também declarou não ter votado em Zveiter, e Paulo Ventura, candidato derrotado à presidência. Já Zveiter foi apoiado pelos desembargadores Roberto Wider, Sérgio Cavallieri e Letícia Sardas. Encerrada a polêmica, a sessão transcorreu normalmente. "Judeu, maçom e kardecista", como se define, Zveiter contou que já quando presidiu a 6ª Câmara Cível não tinha crucifixo, embora seu antecessor tivesse. Ele disse que em janeiro foi procurado pelo desembargador Ademir Paulo Pimentel, coordenador dos evangélicos, que se queixou de ter perdido um espaço que utilizava, com outros magistrados da mesma fé, para orações. Curiosamente, com as mudanças "laicas", a religião ganhou mais espaço no TJ. Em lugar da antiga capela católica - uma sala de cerca de 30 metros quadrados -, o espaço ecumênico tem 150 metros quadrados. Já ganhou um crucifixo, mas sem imagem do Cristo - o uso de imagens é vetado em algumas crenças, como as evangélicas e a muçulmana. Na nova capela haverá cultos evangélicos às quartas-feiras e missas católicas às quintas, das 10h às 11h. Outras religiões poderão usar o espaço em outros dias. A capela ficará aberta ao público todos os dias, das 11h às 18h, para orações e meditação.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.