Terceiro ato contra Zema reúne milhares de policiais no centro de Belo Horizonte

Contrariando decisão do TJ-MG, policiais explodem artefatos durante protesto; bomba explode próxima de repórter da TV Band, que teve de ser socorrida

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Por Carlos Eduardo Cherem
Atualização:

Milhares de policiais voltaram a protestar contra o governador Romeu Zema (Novo) nesta quarta-feira, 9, na praça Rui Barbosa (da Estação), no centro de Belo Horizonte. Os organizadores do movimento estimaram em 40 mil o número de policiais militares e civis, bombeiros, agentes penais, prisionais, socioeducativos e da Defesa Civil, escrivães, peritos criminais e analistas de segurança participantes. O protesto é o terceiro de uma série de atos que tiveram início no dia 21 de fevereiro, com término na Assembléia Legislativa, e no 25, no Palácio Tiradentes, sede do Executivo estadual.

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No início da tarde, parte dos manifestantes foram em direção à antiga sede do governo estadual, o Palácio da Liberdade, na praça de mesmo nome.

Na manhã de hoje, o TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) publicou decisão proibindo os manifestantes de utilizarem bombas no protesto, o que ocorreu nos atos anteriores. O documento determinou também que os agentes de segurança “não invadam prédios públicos e privados e a rampa do Palácio Tiradentes ou o centro de convivência da Cidade Administrativa”.Foi determinada pela corte multa de R$ 100 mil por hora, para cada um dos dez sindicatos que representam os profissionais das forças de segurança.

Servidores das Forças de Segurança de Minas Gerais, se reúnem em protesto em Belo Horizonte (MG), nesta quarta-feira, 9. Os trabalhadores pedem ao governo Zema uma recomposiçãosalarial Foto: LUCAS PRATES/HOJE EM DIA

Apesar da proibição, os policiais utilizaram à exaustão bombas, que explodiam a cada momento no entorno do protesto. No caminho entre a praça da Estação e a praça da Liberdade, jogaram bombas em calçadas e em “bocas de lobo”, causando ruídos estrondosos.

 A rede de TV Band divulgou nota no início da tarde de hoje, cobrando da Polícia Militar (PM) mineira a “garantia de segurança” para os profissionais de imprensa envolvidos na cobertura do protesto. O grupo informou que “dois repórteres, Laura França (TV Band Minas) e Caio Tárcia (BandNews FM BH), foram alvos de violência em manifestação das forças de segurança de Minas Gerais, após explosão de artefatos explosivos”.

No comunicado, o grupo Bandeirantes cobra providências “contra o incidente que colocou em risco a integridade física dos profissionais da empresa”.

“Laura França sofreu um traumatismo auditivo após o estouro de uma bomba ao lado dela. Já o Caio Tárcia foi hostilizado pelos manifestantes e alvo de uma bomba lançada contra ele, enquanto acompanhava o ato no Centro de Belo Horizonte”, informa o grupo Bandeirantes.

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Neste terceiro protesto, após 17 dias de paralisação, com a adoção de “operações padrões”, os manifestantes cobram recomposições salariais acertadas com Zema em 2019, mas o mandatário ofereceu 10,6%, o que não foi aceito pelas forças de segurança.

Em 24 de fevereiro,véspera do segundo protesto de policiais,o TJ-MG determinou o fim da paralisação de duas categorias das forças de segurança: policiais civis e penais.

Impacto

A adoção de “operações padrões” pelas forças de segurança causou impactos para a população como filas de carros no departamento de trânsito (Detran) e pelo menos um motim em presídios, por conta da interrupção de visitas a presos em diversas unidades do sistema carcerário mineiro.

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Desde o início do movimento, na semana que antecedeu o carnaval, motoristas e despachantes enfrentam grande lentidão nos guichês do Detran, no bairro Gameleira, na zona oeste de Belo Horizonte, por conta da “operação padrão”, com somente 30% do número de agentes atuando. O movimento provocou ainda filas de carros na porta do departamento, que chegaram a ocupar três quarteirões no entorno do órgão. As pessoas esperam horas para serem atendidas. Mesmo os serviços com agendamento estão deixando as pessoas à espera de horas para serem atendidas.

O movimento ainda causou  um motim em presídio de Minas Gerais, desde seu início há 17 dias, com a transferência de 62 presos da penitenciária de Nova Lima (MG), município da região metropolitana da capital mineira, dois deles feridos. O caso ocorreu na noite desta segunda-feira (7) e mobilizou as forças de segurança de Minas Gerais.

De acordo com os parentes dos presidiários, a redução dos serviços por conta da “operação padrão” dos policiais penais (proibidos pela Justiça de paralisação) foi o motivo para o motim dos presos, agravado pela "superlotação e situação precária” da penitenciária de Nova Lima.

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A Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Estado informou na tarde desta quarta-feira, 9, que vai apurar as condutas de servidores que durante o protesto “contrariam determinação judicial no tocante à paralisação de atividades ou no que diz respeito a comportamentos inadequados e inaceitáveis durante as manifestações”.

A nota da Secretaria de Justiça e Segurança Pública mineira, embora ressalte que o governo estadual “não compactua com desvios de condutas de servidores públicos, que devem ser os primeiros a prezar e zelar pela segurança do cidadão mineiro”, não fala sobre as bombas utilizadas pelos manifestantes e cita nominalmente a repórter da TV Band Minas, Laura França, “que teve de ser socorrida e encaminhada ao hospital, depois de um artefato explosivo estourar no seu entorno”, mas não esclarece se vai investigar o caso.

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