PUBLICIDADE

Tensão entre índios na fronteira do Brasil com o Peru é cada vez maior, diz indigenista

Segundo Artur Meirelles, madeireiras estão com 'acabando com a Amazanônia Peruana', o que leva à expulsão de grupos para o lado brasileiro

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O clima de tensão entre grupos indígenas isolados na fronteira entre o Brasil e o Peru é cada vez maior, segundo o indigenista Artur Meirelles, que atua na região, na Frente de Proteção Etnoambiental do Alto Envira, mantida pela Fundação Nacional do Índio (Funai). "As madeireiras estão acabando com a Amazônia Peruana e expulsando os índios isolados que vivem ali. Acuados, eles fogem para o lado brasileiro, o que faz aumentar o risco de conflitos com os grupos de isolados daqui, de quem são inimigos históricos", explicou o indigenista, em entrevista por telefone.

 

 

PUBLICIDADE

"Até agora, graças a Deus, não temos informação sobre nenhum conflito, mas o risco só tem aumentado. Se um grupo topar com o outro no meio do mato, começa uma guerra", afirmou o indigenista, que ontem se encontrava em Feijó, cidade localizada e 336 quilômetros, em linha reta, da capital, Rio Branco, e a 239 do seu posto de trabalho, no meio da floresta acreana.

 

"O que acontece do lado peruano é terrível: as madeireiras estão fazendo corte raso", explicou, numa referência ao sistema de derrubada de florestas com o uso de dois grandes tratores que avançam lado a lado, unidos por uma corrente, que vai derrubando as árvores.

 

Foi a preocupação com a sobrevivência dos isolados que levou o pai de Artur, o sertanista José Carlos Meirelles a oferecer à organização não governamental Survival International, baseada em Londres, um conjunto de fotos inéditas dos isolados que vivem em território brasileiro. Elas foram utilizadas ontem no lançamento de uma campanha destinada a chamar a atenção para o risco de genocídio de um dos poucos povos do mundo que vivem sem ter tido contato direto com a civilização, também chamados de não contactados.

 

Meirelles, o pai, que acaba de desligar-se da Funai, já chefiou a frente de proteção aos isolados onde o filho trabalha, como funcionário da Comissão Pró Índio do Acre. A missão deles tem sido proteger os índios do avanço de garimpeiros, traficantes e madeireiros que circulam pela região, seguindo a política que considera melhor para os não contactados que assim permaneçam.

 

"Esse trabalho de proteção vai ficando cada vez mais difícil, por causa das pressões que existem sobre o território indígena", disse Artur. "Além dos madeireiros, dos garimpeiros e traficantes, tem sempre alguém dizendo que é muita terra pra pouco índio. Mas não é verdade. Se você considerar que uma pernada de 40 quilômetros para eles é nada, vai ver que a terra é pequena. Devia ser maior."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.