PUBLICIDADE

Tempero de pizza pode virar perfume

Por Agencia Estado
Atualização:

Nilson Borlina Maia tem uma missão: transformar tempero de pizza em perfume e, de quebra, salvar uma das espécies vegetais mais ameaçadas da Amazônia, o pau-rosa. Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o trabalho de Maia foi selecionado para apresentação em um congresso internacional no Canadá. Ele comprovou que o manjericão, um dos principais temperos da cozinha italiana, pode ser explorado comercialmente também para a produção de linalol, um óleo essencial usado na composição de perfumes famosos, como o Chanel nº 5, francês. Por trás da fragrância preferida de Marilyn Monroe, entretanto, esconde-se um histórico de devastação do pau-rosa da Amazônia, hoje a única fonte de linalol para a indústria perfumista. "Nosso objetivo era encontrar uma fonte alternativa de linalol", diz Maia. "Procuramos outras plantas aromáticas com linalol na composição e potencial agrícola." Entre coentro, laranja, louro, canela, camomila e lavanda, o manjericão não é o que contém a maior quantidade de linalol - apenas 30% do seu óleo é formado pela substância, comparado com 86% do óleo de pau-rosa. Mas é o mais fácil de plantar. O que falta em conteúdo, o manjericão compensa em quantidade. "É uma ótima alternativa para aumentar a renda dos pequenos produtores", diz o consultor de prospecção do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) Alfred Le Roy Trujillo, que supervisiona a pesquisa. Maia agora estuda as melhores condições de nutrição e cultivo para elevar a taxa de linalol do manjericão e tornar o óleo mais adequado às necessidades da indústria dos perfumes. A tecnologia necessária para obter o linalol com maior índice de pureza, conhecida como extração por CO² supercrítico, não existe no Brasil e os pesquisadores negociam parceria com uma empresa americana. A pesquisa teve início em 1999 e até agora custou apenas R$ 4.500, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "É a prova de que boa pesquisa não precisa ser cara", diz Maia. Seu trabalho foi um dos 4 escolhidos, entre 500 de todo o mundo, para ser apresentado oralmente no 26.º Congresso da Sociedade de Horticultura Científica do Canadá, em agosto. Mercado milionário Ainda é cedo para citar números, mas a produção do linalol pelo manjericão faria despencar o preço do produto, que dá fragrância e ajuda a fixar o cheiro dos perfumes. Para Maia, porém, só a redução de custo, mesmo que significativa, não será suficiente para salvar o pau-rosa. Para atrair a indústria, ele aposta nas características ecologicamente corretas (ou inofensivas) do manjericão. "O preço dos perfumes é tão alto que o custo da matéria-prima não importa muito. O valor de marketing é muito mais importante do que uma vantagem econômica que possamos oferecer." Após décadas de exploração, o pau-rosa virou raridade na Amazônia. Os mateiros que buscam a árvore precisam se embrenhar cada vez mais na mata para encontrá-la. Depois o óleo é processado e vendido para o exterior, movimentando um mercado milionário. É um dos casos clássicos de roubo do patrimônio genético do País, que não recebe nada pela exploração da espécie.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.